Recentemente,
fui indagado com a seguinte pergunta: Por que somos tão corruptos? Primeiramente,
registro que essa pergunta eu já fiz algum tempo atrás e ainda hoje continuo a
atualizar meu pensamento crítico sobre o tema. Na verdade, todos os brasileiros
deveriam refletir nessa pergunta, pois é o primeiro passo para que uma mudança
aconteça em nosso país.
A
resposta para essa questão não é simples, pois exige uma compreensão de todo um
contexto. Desta forma, para começar a explicar, segue o seguinte pensamento: Para
compreender o presente, faz-se necessário entender o passado e assim planejar o
futuro. Portanto, devemos desenvolver a capacidade do aprendizado continuo,
através das experiências vivenciadas. Vale ressaltar, que essa deveria ser uma
regra básica para qualquer gestor, seja no setor público ou no setor privado.
A história
registra que a evolução da Administração Pública, inicia-se a partir do
descobrimento do Brasil. No começo, adota-se uma Gestão Patrimonialista que permaneceu
por longos 400 anos. Nesse período, as características predominantes desse tipo
de governo foram: a corrupção, o nepotismo, a mistura entre a coisa pública e a
privada, os interesses pessoais sobrepondo os interesses públicos e a
apropriação de cargos para a troca de favores.
Em 1936,
com a introdução do Departamento de Administração do Serviço Público (DASP),
inicia-se um período que segue uma Gestão Burocrática. Foi nesse período que surgiram
às primeiras tentativas de eliminar os vícios da era patrimonialista. A partir
do DASP, inicia-se um processo para implantar uma gestão baseada na
meritocracia, estabelecendo e criando cargos com as devidas atribuições,
competências, responsabilidades, deveres e direitos. Concursos públicos e leis foram
criados para tentar eliminar a corrupção da esfera pública. Ocorre que apesar
da enorme contribuição desse período de normatização, a influência política ainda
encontrava caminhos para manter os vícios da época patrimonialista.
Em 1988,
com o início da globalização e abertura econômica, edita-se a Constituição
Federal, através do artigo 37. O objetivo era mudar para um modelo de Gestão
Gerencial, no qual os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência, deveriam conduzir uma Administração Pública moderna. No entanto, mesmo
com a evolução do período patrimonialista para o atual gerencial, a influência política
sempre encontrava uma forma de manter o ciclo vicioso dos primeiros 400 anos da
Gestão Pública brasileira.
Refletindo
nesse breve contexto histórico, como então poderíamos classificar a situação atual
da Gestão Pública brasileira nos estados e municípios? Qual o modelo de gestão
predominante? Seria o Patrimonialista, Burocrático ou Gerencial? É um engano
pensar que somente os políticos do poder executivo são os “culpados” pelo
cenário atual, face aos inúmeros escândalos de desvios dos recursos públicos. Infelizmente,
constata-se que até os poderes legislativo e judiciário, que deveriam ser os
guardiões dos interesses públicos, também estão como suspeitos de levar
vantagens na atual onda de corrupção.
O triste é
perceber que a corrupção já faz parte da rotina do dia a dia do povo brasileiro.
A cultura de burlar os procedimentos e leis para ganhar vantagens ou realizar favores
em troca de benefícios está inserida em todos os níveis da sociedade. Por
exemplo: a troca de votos por cesta básica, uma “gorjeta” para o policial
liberar uma multa de trânsito, o pagamento de “bônus” para ganhar um contrato
de serviço, a contratação de um parente que nunca aparece para trabalhar,
entrar em um show, cinema, ônibus ou metrô sem pagar, levar um produto de uma
loja ou supermercado sem pagar, enganar no peso ou na quantidade de um produto
a ser vendido, não contribuir para um trabalho escolar e ainda assim colocar
seu nome para ganhar a nota e muitos outros.
A realidade é que o corrupto virou o forte e o
honesto virou o fraco, pois os valores da ética e da moral foram invertidos e
não são mais valorizados. O mesmo povo que deseja acabar com a corrupção, é o mesmo
que não vive a realidade daquilo que cobra dos governantes. Muitos continuam
votando, mesmo sabendo que determinado governo é corrupto, pois o mais
importante para esses tipos de pessoas é: “se
está bom para mim e estou ganhando algo, o governo é bom”. Portanto, minha
conclusão é que a corrupção é fruto do egoísmo individualista em querer levar
vantagem em tudo, não importando o bem estar coletivo dos outros.