No início, alguns governantes começam a limpar e eliminar as pichações, fazer manutenção e limpeza de ruas e praças,
desobstruir bueiros, trocar lâmpadas queimadas, trocar sinalização, recuperar placas
machucadas ou inexistentes, trocar ou recuperar lixeiras, restaurar a pintura
de guias, rebaixar guias para pessoas com deficiência e entre outras ações.
Ocorre que essas ações provocam várias críticas e polêmicas. Alguns dizem que o Governante que usa roupas de gari
para ir as ruas é uma atitude demagógica. Outros dizem que apagar as tais
“artes” de pichação é uma afronta à liberdade de expressão. Eu,
particularmente, sou a favor de todas essas ações. Contudo, irei explicar o
porque essas ações são importantes e ainda sustentam
todas as outras estratégias de gestão.
Primeiramente, sobre o fato de ir in loco vestido de gari para dar início
a um programa “Cidade Limpa”, digo que se trata de uma técnica de gestão chamada
de GEMBA (local real) e que normalmente aparece ligado ao termo GENCHI GENBUTSU
(vá ver). O objetivo é realizar ações que necessitam uma verificação pessoal no
local onde se encontra determinada situação ou problema. Na cultura oriental é
muito comum essa atitude exemplar, principalmente dos gestores. Portanto, é uma
atitude de liderança que exige a presença do gestor no ambiente operacional, a
fim de garantir a acuracidade das informações necessárias para a tomada de
decisões, além de dar o exemplo aos liderados.
Ainda dentro desse tema, é importante
destacar o diagnóstico. Trata-se de um processo que visa “auscultar” in loco
(no lugar) os problemas da área estudada. Nesse processo, procura-se conhecer,
inquirir e analisar os dados e fatos que ajudam a identificar as
características dos processos de trabalho, os fluxos de comunicação e a
inter-relação entre as diferentes áreas organizacionais. É importante destacar
o papel do gestor nesse processo, pois ele deve entender completamente as
situações de trabalho a partir de uma compreensão própria, conseguida
diretamente no GEMBA e com seus próprios olhos. O gestor deve buscar as
informações, sugerir ações corretivas e entender profundamente os detalhes,
quase tão bem quanto seus colaboradores.
Com relação às ações de limpeza e
organização geral da cidade, digo que o governante está aplicando outra técnica de gestão chamada de 5s – housekeeping. Essa técnica foi concebida
por Kaoru Ishikawa, no Japão, na década de 1950, e foi aplicado com a
finalidade de reorganizar o país após a Segunda Guerra Mundial, quando vivia a
chamada crise da competitividade. Até hoje, é considerado o principal
instrumento de gestão da qualidade e da produtividade utilizado no Japão devido
a sua efetividade. O mesmo também pode ser considerado como um sistema
organizador, mobilizador e transformador de pessoas e organizações. A
ferramenta é bastante básica e deve preceder qualquer iniciativa de mudança.
O nome 5s provém de cinco palavras do
japonês que designam cada um dos procedimentos a serem adotados. Os três
primeiros ‘S’ atuam como ferramenta de mudança no ambiente de trabalho. São
elas: (1) Seiri (Senso de Utilização) - Consiste no descarte dos materiais
inutilizados, bem como o tratamento dado a cada um deles; (2) Seiton (Senso de
Organização) - Consiste na padronização dos objetos, separando-os por natureza
comum e etiquetando cada um deles; (3) Seisou (Senso de Limpeza) - Consiste em
manter disponível no ambiente de trabalho apenas o essencial para a execução,
mantendo-se guardados todos os demais objetos desnecessários naquele momento.
Os dois últimos ‘s’ atuam como
ferramenta de mudança na atitude das pessoas. São elas: (4) Seiketsu (Senso de
Saúde) - Consiste em manter as boas condições sanitárias do ambiente de
trabalho, o que inclui a limpeza geral e o controle de poluição de qualquer
natureza atmosférica, sonora, visual, etc., bem como a própria saúde
ocupacional das pessoas; (5) Shitsuke (Senso de Autodisciplina) - Autocontrole
e autodireção. Consistem na manutenção da ordem geral e das demais condições
adquiridas pelos demais procedimentos já conquistados. Trata também da
intolerância aos erros (não às pessoas), buscando procedimentos mais
eficientes.
Para complementar o que escrevo, cito também um outro experimento em psicologia social,
realizado em 1969, na Stanford University
(EUA), pelo professor Philip Zimbardo. No
experimento, dois carros idênticos (marca, modelo e cor) foram abandonados na
rua. Um carro no Bronx (zona pobre e problemática de Nova York) e outro em Palo
Alto (cidade tranquila, calma e segura da Califórnia). No estudo, constatou que
o carro abandonado no Bronx foi totalmente vandalizado e destruído (rodas,
motor, espelhos, rádio, etc). Em contraste, o carro abandonado em Palo Alto
permaneceu intacto.
Após algumas semanas, em continuidade
ao experimento, o estudo decidiu quebrar um vidro do carro de Palo Alto. O resultado
foi que o mesmo processo ocorrido no Bronx aconteceu também com o carro de Palo
Alto. Segundo o experimento, não é a pobreza a causa do vandalismo, mas o
comportamento, a psicologia humana e as relações sociais em relação a percepção
da ordem. Portanto, cacos de vidro em um carro abandonado transmite uma ideia de
decadência, indiferença, quebra de códigos e regras de vida, ausência de lei,
regras, normas e disciplina.
Outros experimentos subsequentes, realizados
por James Q. Wilson e George Kelling, chamado de “teoria das janelas quebradas",
sugerem que o crime é maior em áreas onde a negligência, a sujeira, desordem e
abuso são maiores. O estudo concluiu que se você quebrar um vidro da janela de
um prédio e ninguém o repara, em breve serão quebrados todos os outros. Se uma
comunidade mostra sinais de deterioração, e isso é algo que não parece importar
a ninguém, então é gerado um ambiente propicio para o crime crescer e prosperar.
Se você fizer "aqueles pequenos erros", como estacionamento em local
proibido, exceder o limite de velocidade ou o sinal vermelho e essas pequenas
falhas não são punidas, em seguida, começarão a se desenvolver grandes falhas e
crimes cada vez mais graves.
Da mesma forma, se os parques e outros
espaços públicos são progressivamente danificados e ninguém toma medidas sobre
isso, esses locais serão abandonados pela maioria das pessoas (que não quer
mais deixar suas casas por medo de gangues). Essas mesmas áreas serão
abandonadas pelo povo e progressivamente ocupadas por criminosos. Portanto, os
pesquisadores concluíram que a negligência e a desordem crescem junto com
muitos outros males sociais e ambientes degenerados.
Por fim, desafio você
a fazer o seguinte experimento “caseiro”. Minha sugestão é a seguinte: em sua
casa, deixe de fazer a manutenção de alguns problemas que aparecem
eventualmente. Deixe também que os muros da sua casa sejam pichados e não os limpe. Depois de um tempo, você poderá registrar que o comportamento da
família também irá mudar frente ao ambiente de deterioração da sua casa. Você
verá que os hábitos de limpeza, ordem e disciplina serão, aos poucos,
abandonados. Portanto, antes de criticar as ações de um governante público, considere as
informações acima citadas. Afinal, sem ordem não há progresso.