Antes, muitos morreram para que esse
fato histórico se tornasse realidade. Exemplo de Tiradentes que foi executado
pela coroa portuguesa por defender a liberdade, durante o processo da
Inconfidência Mineira. O próprio D. Pedro recebeu forte pressão das cortes de
Lisboa exigindo seu retorno para Portugal, pois sua presença no Brasil impedia a
recolonização do Brasil. Como respondeu negativamente, criou-se o registro
histórico do Dia do Fico e a celebre frase: “se é para o bem de todos e
felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”.
Após o Dia do Fico, D. Pedro ainda
convocou uma Assembleia Constituinte, organizou a Marinha de Guerra, obrigou as
tropas de Portugal a voltarem para o reino e ainda determinou que nenhuma lei
de Portugal fosse colocada em vigor sem o “cumpra-se”, ou seja, sem sua
aprovação direta. No final, percebendo o inevitável, Portugal exigiu o
pagamento de 2 milhões de libras esterlinas para reconhecer a independência de
sua ex-colônia. Dinheiro esse que D. Pedro recebeu de um empréstimo concedido
pela Inglaterra.
É claro que a realização da
Independência do Brasil foi importante para a Administração Pública do país.
Contudo, vale ressaltar que esse fato histórico não provocou mudanças sociais relevantes
para a maioria do povo brasileiro. Nesse contexto, me refiro às classes menos
favorecidas que não acompanharam e nem entenderam o acontecimento. Mudanças na
estrutura agrária não ocorreram, a escravidão continuou e as diferenças sociais
e de renda só aumentaram as desigualdades. O fato é que somente uma minoria, a classe
rica, que deu suporte político a D. Pedro, foi à única que se beneficiou com o
feito.
Em relação à Administração Pública, apesar
do marco histórico de 07 de Setembro, percebe-se que desde o descobrimento do
Brasil, passando pela Independência, Proclamação da República, expulsão da
família imperial, o governo de Getúlio Vargas, período militar, processo de
redemocratização, abertura econômica, plano real e até agora na mais recente
Gestão, os vícios Patrimonialistas ainda persistem com as mais danosas práticas
políticas, tais como: A Administração Pública é uma mera extensão da vontade e
dos interesses daqueles que estão no poder; Os cargos se tornam Prebendas e
Sinecuras; A Res Pública não é diferenciada da Res Príncipe; A corrupção e o nepotismo
são institucionalizados; A apropriação do cargo por interesses pessoais é generalizada
entre os vários níveis públicos; outros mais.
Olhando para o presente, lembrando o
passado, percebemos que a “Independência” declarada em 1822 ainda não aconteceu
para grande parte da população brasileira. Infelizmente, os vários acontecimentos
da história proporcionaram grandes ganhos apenas para uma minoria, enquanto que
a grande parte permaneceu alienada. Constata-se que o estigma de povo dominado
e explorado ao estilo colônia de Portugal ainda persiste, porém, agora, pelos próprios
filhos da terra pátria que governam a si mesmo. Na verdade, resultado de um
sistema de educação que forma alienados políticos, no qual a grande massa é
incapaz de se orientar politicamente para raciocinar, defender e traçar seu
próprio destino.
A crítica que faço não pretende defender
os modelos econômicos, políticos e sociais que pregam a “igualdade” entre as
classes sociais e desconsideram a meritocracia. O objetivo é combater as teorias
que na prática não existem. Exemplo das ideologias políticas que hoje se
espalham pelos países da América Latina, ou seja, uma falsa democracia que
desenvolve um cenário ilusório, no qual o governo proclama uma “independência”
ou uma “democracia” diferente daquela que realiza na prática. Portanto, uma política
mutante e dissimulada que tenta parecer o que de fato não é.
A conclusão é que
esse cenário de democracia dissimulada e de alienação política acaba encontrando
terreno fértil para se desenvolver devido à falta de uma consciência coletiva,
da desorganização e do individualismo daqueles que elegem os governantes. É
como já dizia o filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821) que escreveu a
seguinte expressão: “cada povo tem o governo que merece”.