segunda-feira, 15 de setembro de 2025

O Perigo de Criar um Cemitério de Dados

 


É cada vez mais comum ver empresas mergulharem de cabeça na corrida pela Indústria 4.0, impulsionadas por dicas de "consultores 4.0" que orientam investimentos expressivos em sensores, automações, robôs, softwares e aumento da infraestrutura de TI. O foco, muitas vezes, está em capturar o máximo possível de dados, como se o simples fato de armazenar grandes volumes de informações fosse, por si só, sinônimo de inteligência operacional.

Mas o que realmente está sendo feito com todos esses dados?

O que se observa, na prática, é um volume imenso de dados sendo gerado e armazenado continuamente, sem que exista uma estratégia clara para análise, interpretação e aplicação desses dados na tomada de decisão. Vejo que as empresas estão construindo verdadeiros “cemitérios de dados” com repositórios gigantescos, caros de manter, que pouco ou nada contribuem para melhorar a eficiência, reduzir desperdícios ou aumentar a lucratividade.

A ausência de uma cultura orientada por dados e a falta de competências analíticas dentro das organizações transformam um ativo valioso em um passivo silencioso. Dados que não são utilizados representam desperdício de tempo, dinheiro e energia. O pior é criar uma falsa sensação de modernização e avanço tecnológico, quando, na verdade, apenas encobrem problemas estruturais que continuam não sendo resolvidos.

Para ilustrar o que digo, registro que recentemente atuei em um projeto no qual, sem sugerir nenhum investimento em tecnologias 4.0 e sem criar mais acúmulo de dados, conseguimos gerar mais de R$ 2.600.000,00 ao ano em redução de custos. Como? Simplesmente utilizando os dados que já existiam, mas que nunca haviam sido analisados com profundidade ou direcionados para decisões estratégicas.

É bom sinalizar que este texto serve apenas como alerta sobre um equívoco recorrente na crença de que o acúmulo de dados é sinônimo de transformação digital. Não é! O valor dos dados está no uso inteligente, na análise crítica e na capacidade de transformá-los em ações e soluções concretas. Armazenar dados sem propósito é apenas empilhar bytes. Usá-los com inteligência, sim, é o que realmente torna uma empresa mais competitiva e eficiente.

Portanto, minha recomendação é: antes de buscar mais tecnologia e seguir conselhos de "consultores 4.0", é preciso extrair valor daquilo que já está disponível. A verdadeira revolução 4.0 começa com propósito, estratégia e, principalmente, com o uso consciente da informação.