Muitos me perguntam porque algumas pessoas
aparentemente “intelectuais” continuam a concordar com os políticos corruptos,
apesar das várias provas e evidências que comprovam a corrupção. Esse
comportamento parece estranho, contraditório e difícil de entender, pois esses
eleitores irão votar novamente no político corrupto. É como alguns até brincam dando
o exemplo do marido traído que ignora o fato da traição, apesar de ter flagrado
a mulher no ato sexual. Sendo assim, o marido “chifrudo” tenta de todas as formas
justificar ou minimizar o ato da traição. Outro exemplo é quando esses tipos de
pessoas dizem assim: “ele rouba, mas faz”. Também há aqueles que tentam
justificar e proteger o partido político corrupto dizendo que os outros também
roubam. Muitos até travam brigas corporais para defender o político corrupto. Outros
não chegam até nas agressões físicas, porém, cortam as relações de amizade ainda
nas redes sociais.
Nesse contexto, é um desafio entender os
motivos pelo qual alguns eleitores continuam a apoiar o Partido dos
Trabalhadores (PT) e os políticos ligados ao esquema da Lava Jato (nome atual dado
a investigação de corrupção). Na verdade, algumas pessoas simplesmente ignoram
as provas apresentadas. É como se essas pessoas estivessem em um estado de “lavagem
cerebral” que os tornassem cegos e surdos para ver e ouvir os fatos e dados de
forma objetiva e racional. Pensando bem, pode até ser que essas pessoas tenham
a plena consciência do engando. No entanto, algo na synapse dessas pessoas
neutraliza a realidade, a fim de viver uma ilusão daquilo que ela gostaria que
fosse verdade. Portanto, essas pessoas vivem em constante incoerência em
relação a realidade dos fatos reais.
Procurei uma teoria científica que
explicasse esse comportamento. Achei então a Dissonância Cognitiva. A
dissonância é a contradição e uma das principais fontes de inconsistência no
comportamento. O elemento cognitivo é uma convicção que o indivíduo tem sobre
si mesmo e o ambiente. Trata-se de uma tese que defende a ideia segundo a qual as
pessoas tentam constantemente reduzir a dissonância ideológica (incoerência de
ideias) mediante a alteração das suas percepções e cognições, ao mesmo tempo em
que criam outras cognições para cimentar o seu sistema de crenças. Essas
pessoas também tentam reduzir a importância que se dá aos elementos ideológicos
dissonantes e incoerentes que podem perturbar o seu sistema de crenças.
Portanto, quando essas pessoas pretendem que as suas expectativas se tornem
reais, exigem que a realidade se adeque aquilo que elas pensam que deveria ser, no sentido de encontrarem um senso de equilíbrio. No entanto, quando a
realidade não se adequa aquilo que essas pessoas pensam que deveria ser, então
elas entram em dissonância cognitiva e numa sensação de desconforto e de
mal-estar. Desta forma, essas pessoas tentam sempre evitar situações ou fontes
de informação que contradizem as próprias crenças, mesmo sabendo da verdade.
Por exemplo: 1) aquelas pessoas que
militam nas ideologias socialistas, comunista e defensores da igualdade de
classes. Porém são fortes consumidores das benesses do sistema capitalista; 2)
as pessoas que ignoram as provas e fatos da corrupção, simplesmente porque
gozam dos benefícios do governo corrupto; 3) alguém que é feminista e a favor
de direitos iguais entre homens e mulheres. Porém, não abre mão de gozar das
benesses de ser mulher (ex: aposentaria mais cedo que os homens); 4) alguém que
continua afirmando que o governo Dilma é bom, apesar dos números que provam os péssimos
resultados desse governo; 5) alguém que continua acreditando no ex-presidente
Lula, apesar das várias provas e evidências apresentadas pelo Ministério
Público; 6) alguém que continua votando nos mesmos políticos corruptos, apesar
das várias condenações. Portanto, essas pessoas tentam reduzir a importância
dos fatos que contradizem as suas expectativas acerca da realidade. Essas
pessoas também tentam mudar a realidade de acordo com aquilo que acreditam ou
que gozam em forma de benefício próprio. Essas pessoas tentam mudar a realidade
dos fatos na tentativa de esconder as evidências que comprovam a própria incoerência.
No fim, a partir dessa
teoria, podemos entender que o indivíduo que apoia o político corrupto se comporta
de acordo com suas percepções e não de acordo com a verdade, ou seja, reage
conforme aquilo que é confortável e não com suas cognições. Portanto, essas
pessoas criam novas crenças, mudando as que já possuíam ou mesmo dissimulando outras
justificativas de modo a camuflar a incongruência do próprio comportamento. O
pior é ainda perceber que essas pessoas tem uma enorme dificuldade de
reconhecer o erro cometido, pois tentam, a todo o momento, inventar novas
justificativas ou explicações que apoiam a decisão ou ato dissonante (é o
efeito do auto-engano).