domingo, 27 de março de 2016

Por que algumas pessoas “inteligentes” apoiam políticos corruptos?

Muitos me perguntam porque algumas pessoas aparentemente “intelectuais” continuam a concordar com os políticos corruptos, apesar das várias provas e evidências que comprovam a corrupção. Esse comportamento parece estranho, contraditório e difícil de entender, pois esses eleitores irão votar novamente no político corrupto. É como alguns até brincam dando o exemplo do marido traído que ignora o fato da traição, apesar de ter flagrado a mulher no ato sexual. Sendo assim, o marido “chifrudo” tenta de todas as formas justificar ou minimizar o ato da traição. Outro exemplo é quando esses tipos de pessoas dizem assim: “ele rouba, mas faz”. Também há aqueles que tentam justificar e proteger o partido político corrupto dizendo que os outros também roubam. Muitos até travam brigas corporais para defender o político corrupto. Outros não chegam até nas agressões físicas, porém, cortam as relações de amizade ainda nas redes sociais.
Nesse contexto, é um desafio entender os motivos pelo qual alguns eleitores continuam a apoiar o Partido dos Trabalhadores (PT) e os políticos ligados ao esquema da Lava Jato (nome atual dado a investigação de corrupção). Na verdade, algumas pessoas simplesmente ignoram as provas apresentadas. É como se essas pessoas estivessem em um estado de “lavagem cerebral” que os tornassem cegos e surdos para ver e ouvir os fatos e dados de forma objetiva e racional. Pensando bem, pode até ser que essas pessoas tenham a plena consciência do engando. No entanto, algo na synapse dessas pessoas neutraliza a realidade, a fim de viver uma ilusão daquilo que ela gostaria que fosse verdade. Portanto, essas pessoas vivem em constante incoerência em relação a realidade dos fatos reais.
Procurei uma teoria científica que explicasse esse comportamento. Achei então a Dissonância Cognitiva. A dissonância é a contradição e uma das principais fontes de inconsistência no comportamento. O elemento cognitivo é uma convicção que o indivíduo tem sobre si mesmo e o ambiente. Trata-se de uma tese que defende a ideia segundo a qual as pessoas tentam constantemente reduzir a dissonância ideológica (incoerência de ideias) mediante a alteração das suas percepções e cognições, ao mesmo tempo em que criam outras cognições para cimentar o seu sistema de crenças. Essas pessoas também tentam reduzir a importância que se dá aos elementos ideológicos dissonantes e incoerentes que podem perturbar o seu sistema de crenças. Portanto, quando essas pessoas pretendem que as suas expectativas se tornem reais, exigem que a realidade se adeque aquilo que elas pensam que deveria ser, no sentido de encontrarem um senso de equilíbrio. No entanto, quando a realidade não se adequa aquilo que essas pessoas pensam que deveria ser, então elas entram em dissonância cognitiva e numa sensação de desconforto e de mal-estar. Desta forma, essas pessoas tentam sempre evitar situações ou fontes de informação que contradizem as próprias crenças, mesmo sabendo da verdade.
Por exemplo: 1) aquelas pessoas que militam nas ideologias socialistas, comunista e defensores da igualdade de classes. Porém são fortes consumidores das benesses do sistema capitalista; 2) as pessoas que ignoram as provas e fatos da corrupção, simplesmente porque gozam dos benefícios do governo corrupto; 3) alguém que é feminista e a favor de direitos iguais entre homens e mulheres. Porém, não abre mão de gozar das benesses de ser mulher (ex: aposentaria mais cedo que os homens); 4) alguém que continua afirmando que o governo Dilma é bom, apesar dos números que provam os péssimos resultados desse governo; 5) alguém que continua acreditando no ex-presidente Lula, apesar das várias provas e evidências apresentadas pelo Ministério Público; 6) alguém que continua votando nos mesmos políticos corruptos, apesar das várias condenações. Portanto, essas pessoas tentam reduzir a importância dos fatos que contradizem as suas expectativas acerca da realidade. Essas pessoas também tentam mudar a realidade de acordo com aquilo que acreditam ou que gozam em forma de benefício próprio. Essas pessoas tentam mudar a realidade dos fatos na tentativa de esconder as evidências que comprovam a própria incoerência.
No fim, a partir dessa teoria, podemos entender que o indivíduo que apoia o político corrupto se comporta de acordo com suas percepções e não de acordo com a verdade, ou seja, reage conforme aquilo que é confortável e não com suas cognições. Portanto, essas pessoas criam novas crenças, mudando as que já possuíam ou mesmo dissimulando outras justificativas de modo a camuflar a incongruência do próprio comportamento. O pior é ainda perceber que essas pessoas tem uma enorme dificuldade de reconhecer o erro cometido, pois tentam, a todo o momento, inventar novas justificativas ou explicações que apoiam a decisão ou ato dissonante (é o efeito do auto-engano).