terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Empreendedorismo: Teoria, dados e planos

Segundo os pioneiros Richard Cantillon (1755) e Jean-Baptiste Say (1800), “empreendedorismo” são pessoas que decidem tomar o risco de investir o seu próprio dinheiro em empreendimentos. Para J. Schumpeter (1978), o empreendedorismo está associado à inovação, quando o mesmo afirma que: “a essência do empreendorismo está na percepção e aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios; tem sempre que ver com a criação de uma nova forma de uso dos recursos nacionais, em que eles sejam deslocados do seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações”. Schumpeter complementou ainda dizendo que o empreendedor era responsável por processos de “destruição criativa”, que resultavam na criação de novos métodos de produção, novos produtos e novos mercados. Vale ressaltar que o conceito de risco foi introduzido por K. Knight (1967) e Peter Drucker (1970).
No entanto, vale ressaltar que o “empreendedor” não é somente aquele que estabelecem uma nova empresa, mas também aqueles que criam e melhoram processos, serviços e produtos, mesmo dentro de uma organização. Esse conceito foi introduzido por Pinchot (1985), quando o mesmo caracterizou como o intra-empreendedor, isto é, uma pessoa empreendedora dentro da organização a que pertence.
Não há uma regra ou norma que identifique um empreendedor. Contudo, vários pesquisadores já escreveram sobre algumas características desses indivíduos, tais como: são aptos em identificar e explorar oportunidades, criam e/ou melhoram produtos, serviços e processos, pensam “fora da caixa”, conseguem ver os problemas e soluções que outros não percebem, assumem riscos calculados, são ousados na forma planejada e prudente, não desistem, sabem perfeitamente seus pontos fortes e oportunidades de melhoria, agem de forma proativa e não reativa, aprendem continuamente, são perseverantes, são auto-motivados, possuem a autogestão, são competitivos, são flexíveis, são criativos e muitas outras características. É claro que não é possível reunir todas essas características em uma só pessoa, No entanto, o empreendedor de sucesso é aquele capaz de reunir grande parte delas em si próprio.
Para o Global Entrepreneurship Monitor (2013), o empreendedor pode ser classificado da seguinte forma:
Os empreendedores nascentes - são aqueles que estão envolvidos na estruturação de um negócio do qual são proprietários, mas que ainda não pagou salários, pro-labores ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de três meses. Os empreendedores novos – são aqueles que administram e são proprietários de um novo negócio que pagou salários, gerou pro-labores ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de três e menos de 42 meses. Esses dois tipos de empreendedores são considerados empreendedores iniciais ou em estágio inicial.
Os empreendedores estabelecidos – são aqueles que administram e são proprietários de um negócio tido como consolidado, que pagou salários, gerou pro-labores ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de 42 meses (3,5 anos).
O Global Entrepreneurship Monitor iniciou as pesquisas sobre empreendedorismo em 1999 por meio de uma parceria entre a London Business School e o Babson College, abrangendo no primeiro ano 10 países. Desde então, quase 100 países se associaram ao projeto, que constitui o maior estudo em andamento sobre o empreendedorismo no mundo. Em 2013, foram incluídos 68 países, cobrindo 75% da população global e 89% do PIB mundial.
Vale ressaltar que a pesquisa teve como objetivo compreender o papel do empreendedorismo no desenvolvimento econômico dos países. No entanto, é importante ressaltar que o foco principal da pesquisa foi o indivíduo empreendedor, mais do que o empreendimento em si.
O Brasil participa deste esforço desde 2000, onde a pesquisa é conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) e conta com o apoio técnico e financeiro do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Desde 2011, o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas tornou-se parceiro acadêmico do projeto.
Em 2013 foram entrevistados 10.000 indivíduos adultos, residentes nas cinco regiões do país (2000 entrevistados em cada uma das regiões), a respeito de suas atitudes, atividades e aspirações individuais; e 85 especialistas, que opinaram sobre vários aspectos relativos ao ambiente de negócios, os quais condicionam a criação e o desenvolvimento de novos empreendimentos.
A pesquisa ainda identifica a motivação para a atividade empreendedora, que são: Os empreendedores por necessidade são aqueles que iniciam um empreendimento autônomo por não possuírem melhores opções de ocupação, abrindo um negócio a fim de gerar renda para si e suas famílias. Já os empreendedores por oportunidade são os que identificaram uma chance de negócio e decidiram empreender, mesmo possuindo alternativas de emprego e renda.
A Pesquisa GEM também analisa várias informações que permitem identificar características dos empreendimentos, como por exemplo, novidade dos produtos ou serviços, concorrência, orientação internacional, expectativa de criação de ocupações para os próximos cinco anos e idade da tecnologia/processos.
Em resumo, o resultado das pesquisas do GEM 2013 identifica que 40 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos estejam envolvidos com a atividade empreendedora. Além disso, verificou-se também o aumento da proporção de empreendedores por oportunidade, o que reflete uma decisão mais planejada em relação à opção pelo empreendedorismo, aumentando a probabilidade de sucesso do negócio. O estudo revelou também que, pela primeira vez no Brasil, a proporção de mulheres empreendedoras superou a proporção de homens (52,2% contra 47,8%). No entanto, o estudo revelou os baixos percentuais de novidade nos produtos e serviços, além da baixa perspectiva de geração de empregos nos próximos cinco anos. É claro que tudo está diretamente relacionado com a atual condição econômica e politica do Brasil.
Segundo a Secretária da Micro e Pequena Empresa (2014), os pequenos negócios representam hoje cerca de 20% do PIB brasileiro. Entretanto, eles reconhecem que a sobrevivência e o crescimento do setor dependem de alguns fatores, tais como: a simplificação e redução da atual tributação, a escolaridade dos empreendedores, a legislação (ex: Lei Complementar PLP 221 que irá permitir a inserção de mais empresas no supersimples), a desburocratização, a concessão de crédito, a pouca experiência dos gestores na Gestão Profissional, falta de um planejamento prévio do negócio e entre outras.
Na prática, esses problemas citados são responsáveis por uma taxa de mortalidade com aproximadamente 25% das empresas com mais de dois anos de funcionamento (SEBRAE, 2014). Portanto, uma em cada quatro empresas fecha até dois anos após a criação. Por exemplo, muitos ainda cometem um erro básico que é misturar o patrimônio pessoal com o caixa da empresa. Além da total falta de entendimento e controle dos custos totais da operação, o que compromete diretamente a competitividade. Nesse contexto, é muito comum o empreendedor não preparar um Plano de Negócio customizado para o empreendimento que ele desejo abrir. O resultado? Morte prematura.
Sem um adequado Plano de Negócio é impossível ter sucesso em um novo empreendimento. O plano de negócio (BUSINESS PLAN) é o instrumento ideal para traçar um retrato fiel do mercado, do produto e das atitudes do empreendedor, o que propicia segurança para quem quer iniciar uma empresa com maiores condições de êxito ou mesmo ampliar ou promover inovações no atual negócio.
Um planejamento adequado irá orientá-lo na busca de informações detalhadas sobre o seu ramo, os produtos e serviços que irá oferecer aos seus clientes, concorrentes, fornecedores e, principalmente, sobre os pontos fortes e fracos do seu negócio, contribuindo para a identificação da viabilidade de suas ideias e na gestão da empresa.
Um plano de negócio é um documento que descreve por escrito os objetivos de um negócio e quais passos devem ser dados para que esses objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as incertezas. Um plano de negócio permite identificar e restringir seus erros no papel, ao invés de cometê-los na prática e no mercado.
Um Plano de Negócio irá lhe dar uma visão do todo (Visão Sistêmica). Por exemplo, as questões tributárias, a análise proativa do mercado, o plano de marketing, o plano de operações, o plano financeiro, o ponto de equilíbrio, a lucratividade, a rentabilidade, o prazo para o retorno do investimento e a avaliação estratégica.
Há também uma recente metodologia chamada de Business Model Generation (BMG) criada por por Alexander Osterwalder. Essa metodologia faz uso de um Canvas (Tela) onde estão dispostos os nove elementos principais de um Modelo de Negócio: Segmentos de Clientes, Proposições de Valor, Canais, Relacionamento com Clientes, Fontes de Receita, Recursos-Chave, Atividades-Chave, Parcerias-Chave e Estrutura de Custos.
O BMG Canvas é uma ferramenta bastante eficiente para ilustrar as características do seu Modelo de Negócios. Ele permite o gerenciamento estratégico utilizado em negócios existentes ou que ainda estão no papel. O BMG Canvas é um mapa simples e visual, que aborda os principais aspectos que o empreendedor precisa considerar ao trazer sua empresa para a realidade do mercado. Ele apresenta um resumo dos pontos chaves de um bom Planejamento de Negócio.
Portanto, o BMG Canvas não substitui totalmente o Plano de Negócios (PN), mas é uma ferramenta mais fácil de ser utilizada no dia a dia e pode ajudar no ganho de competitividade, já que oferece agilidade ao processo e é flexível o suficiente para suportar alterações constantes.
Dentre outras disciplinas que ministro nos MBAs, eu também ensino a elaborar Planos de Negócios detalhados e o BMG Canvas. Em resumo, posso dizer que ambos contribuem para responder duas perguntas básicas: (1) Vale a pena abrir, manter ou ampliar o meu negócio? (2) Qual a melhor forma de criar, entregar e capturar valor para o mercado?.
Lembre-se de que a preparação de um Plano de Negócio e/ou um BMG Canvas é um grande desafio, pois exige dedicação, trabalho em equipe, um grande desejo de realizar, persistência, comprometimento, pesquisa, trabalho duro e muita criatividade. Bom Trabalho!