Primeiramente,
gostaria de explicar que delegar é totalmente diferente de “delargar”. O ato de “delargar”
é simplesmente “passar o macaquinho”
para o seu colaborador sem antes verificar se o mesmo possui as informações
necessárias e a maturidade profissional para executar a tarefa.
Antes de
delegar, portanto, faz-se necessário os seguintes cuidados: a) escolher bem o
colaborador que irá executar a tarefa; b) ter certeza que o mesmo compreendeu
as informações necessárias (objetivos e resultados); c) se necessário, estar
sempre acessível para dúvidas, complementações e questionamentos; d) fornecer
os recursos necessários para se executar a tarefa e assim chegar aos resultados
esperados; e) fazer acompanhamento e dar feedbacks ao longo do processo. Desta
forma, delegamos as tarefas de forma flexível e diferenciada de acordo com cada pessoa, dando aos colaboradores a oportunidade de realizarem seu trabalho
ao mesmo tempo em que monitoramos o desempenho.
É claro
que tudo acima mencionado está relacionado com o perfil de cada profissional,
pois depende do nível de maturidade de cada pessoa. O líder também deve colaborar
com o suporte emocional e instrução necessária para que o desempenho da sua
equipe atenda as demandas apresentadas e entregue os resultados necessários. Por
outro lado, se o líder simplesmente “jogar
a batata quente” na mão de seu colaborador, sem considerar as dicas acima
citadas, é quase certo que ele estará apenas “delargando” sem critério, método
e responsabilidade. Nesse sentido, a maturidade aqui destacada pode ser entendida
como a capacidade do profissional para se adequar as diversas situações
apresentadas, assumindo responsabilidades e gerindo seu trabalho efetivamente,
mesmo sem precisar da interferência direta do líder. Vale ressaltar, que na
maioria das vezes, o bom líder apenas delega para aqueles que ele confia serem
aptos para entregar determinada tarefa e resultado.
Portanto,
quando o colaborador alcança o nível de maturidade desejada, sua produtividade
é maior e ele consegue lidar melhor com as mudanças, inovar e apresentar
resultados expressivos mesmo nos momentos de crise. Entretanto, se o líder
percebe que o seu colaborador não está ainda nesse nível desejado, o mesmo deve
assumir o papel de “coach” e assim
atuar como um educador que irá acompanhar todo o desenvolvimento do trabalho a
ser executado. Desta forma, motivando e apoiando continuamente o seu
colaborador na construção dos resultados esperados, uma vez que este
profissional ainda não é capaz de se adequar com rapidez as novas situações e
demandas solicitadas. Na realidade, o objetivo final é ajudar esse funcionário
a crescer em sua maturidade profissional. Nesses casos, faz-se necessário que o
líder realize a tarefa junto com o colaborador para que o mesmo possa aprender
e ainda se desenvolver.
Ocorre
que, na contrapartida do acima citado, há também o líder que não confia na sua
equipe. Alguns até tem “medo” e se
sentem ameaçados por seus próprios colaboradores. Nestes casos, aparece uma figura
que chamo de “Liderança Dinossauro”. Muitos
já foram extintos. Porém, infelizmente, há ainda alguns desgarrados por aí afora. Esse tipo de líder é aquele que não cabe mais no mundo moderno. É aquele
que gosta de fazer tudo sozinho e acaba centralizando todas as tarefas e
decisões em si mesmo. Esse tipo é aquele que pensa: “é mais fácil fazer do que ensinar”...“quem quer faz, quem não quer
manda”...“se quiser bem feito, faça você mesmo” e outros mais ditos
populares. Portanto, como gestor, esse líder é apenas um ótimo executor.
Em se
tratando de custos, esse “líder” é aquele que corta sem critérios e sem
conhecimento do que realmente acontece no “gemba”
(qualquer lugar em uma organização onde as coisas acontecem, quer sejam as atividades
que agregam valor, quer sejam os desperdícios cuja eliminação deve ser sempre
buscada), pois, na maioria das vezes, começa demitindo equivocadamente bons
funcionários.
Outro
ponto a se considerar sobre esse tipo de líder centralizador são as conseqüências
desse comportamento. Centralizar tudo acaba por causar o stress laboral, além
de o líder trabalhar mais na execução do que nas estratégias e resultados. Em
alguns casos, essa situação acaba causando a perda de excelentes oportunidades
profissionais, danos a saúde e na família também. Vale lembrar que o resultado
desejado vem do desempenho orquestrado de todas as pessoas.
Portanto,
deve-se considerar o processo de delegar como uma arte a ser desenvolvida.
Porém, deve-se fazer com inteligência, de forma situacional e de acordo com a
maturidade profissional de cada pessoa. Neste contexto, o líder acaba adotando
estilos diferentes para cada pessoa de um mesmo time. Principalmente, se nesse
time há pessoas com os níveis variados entre o júnior, pleno e sênior. Então,
uma pergunta surge: Como o líder deve atuar em diferentes níveis de maturidade?
Para o
tipo júnior, o líder deve ensinar ao colaborador como executar suas tarefas,
sua importância, acompanhar o desenvolvimento dessas atividades até a conclusão
e assim também até que o profissional tenha plena confiança para executá-lo
sozinho e de modo planejado.
Para o
pleno, o líder também é fundamental para que ele possa adquirir confiança, buscar
crescimento e desenvolvimento de suas habilidades de forma contínua. Nestes
casos o líder apóia, mas não precisa supervisionar efetivamente seu liderado,
pois este consegue desempenhar seu trabalho sem tantas interferências.
Para o
sênior, o líder consegue delegar o trabalho sem precisar acompanhar seus
colaboradores de tão perto, pois estes têm mais autonomia e liberdade para
trabalharem e, muitas vezes, até autoridade para tomar decisões e fazer
mudanças.
Vale
ressaltar, no entanto, que os tipos de pessoas que cada empresa produz dependem
centralmente dos paradigmas que esta organização professa no seu dia a dia (a
cultura organizacional).
Do
outro lado dessa análise, deve-se considerar também os tipos de colaboradores
que há nos ambientes organizacionais. Esses tipos eu chamo de “Colaboradores Dinossauros”. Muitos já
foram extintos. Porém, infelizmente, há ainda alguns desgarrados por aí afora. Esses
tipos são os seguintes:
O
primeiro, e muito comum, é o bajulador, também vulgarmente chamado de “puxa-saco”. Esse tipo, por sua vez, age
desta forma porque tem insegurança de sua capacidade como profissional. Ele tem
medo da concorrência de outros colegas inovadores e que ele mesmo não possui
competência para desenvolver. Esse tipo aceita qualquer delegação, mesmo que
não esteja preparado para a tarefa. Na maioria das vezes, não sabe contra-argumentar
com base em dados e fatos. O fato é que essa figura só existe porque há também
o “chefe” que gosta de ser bajulado,
transformando as relações interpessoais em um jogo de ego danoso para a
organização.
O segundo
tipo é o “fofoqueiro”. Esse tipo
atrapalha o processo de renovação e inovação organizacional. Ele é aquele que
cria as coalizões políticas “panelinhas”
que acabam gerando uma competição predatória entre os colegas, desmotivando a
equipe, interferindo diretamente nos resultados, influenciando negativamente a
equipe e até gerando um “motim”. Vale
ressaltar, sem medo de errar, que a totalidade das fofocas geradas tem um único
interesse de prejudicar a outra pessoa.
Além
disso, esse tipo possui uma característica pior entre todos os outros, pois,
pode se transformar em uma ameaça não somente para os colegas, mas também no
pior inimigo do seu próprio líder. O fato é que essa figura só existe porque há
também os receptores que compartilham e param para ouvir o veneno do
transmissor. Esse tipo, quando procurado para assumir uma tarefa que lhe foi
delegada, mesmo sem ter a competência para tal, aceita. É devido a sua falha de
caráter, pois o mesmo acaba copiando a ideia de outros colegas para assim dizer
que desenvolveu a solução sozinho. Portanto, ética e lealdade são palavras que
esse tipo definitivamente não conhece.
O
terceiro tipo é o “coitadinho”. Esse colaborador parece que já se aposentou e
não avisou a empresa. Ele não suporta o peso dos desafios apresentados e não
consegue combater a adversidade encontrada. Na maioria das vezes, julga-se
injustiçado, dá várias desculpas e está sempre na posição de vítima. Frustra-se
facilmente, trabalha com medo e é grande fonte de desmotivação da equipe. O
pior é que esse tipo acaba virando vítima de uma situação que ele mesmo criou,
acabando por transferir a culpa de sua incompetência para outro. Quando
acionado para executar uma tarefa, julga-se incapaz sempre.
O
quarto tipo é o “conformado”. Esse nunca se motiva diante dos desafios. É
aquele que faz o “mínimo necessário”
e para permanecer no emprego. Não inova em nada. Nunca contribui com ideias e
nem participa dos times de melhorias. É um resistente implacável, sendo contra
tudo e todos. O salário no fim do mês lhe atende perfeitamente. Não tem
aspirações ou ambições para conduzir novos projetos. Quando o líder procura
alguém para delegar, é o primeiro a desaparecer (tipo ninja). Na maioria das
vezes, fica sempre quieto para não ser lembrado e assim não receber nenhuma
tarefa ou responsabilidade adicional.
O
quinto tipo é o chamado “orgulhoso”.
Esse tipo se acha “o cara” e não
possui nenhuma humildade. Ele também é danoso a organização, pois acha que é o
único bom da equipe. O “orgulhoso” sempre
fica isolado do time e tem problemas no relacionamento interpessoal, pois se
acha superior a todos ao ponto de não se misturar. Infelizmente, trata-se
apenas de uma ilusão causada pelo seu próprio ego, pois não é capaz de enxergar
sua fraqueza. Em um ambiente organizacional é natural que você cometa alguma
falha. Nessa situação, a atitude que se espera do funcionário é a humildade para
reconhecer o erro e aprender a fazer melhor. Neste contexto, o “orgulhoso” nunca reconhece um erro
cometido. O pior é que ele acaba escondendo seu próprio erro e ainda “empurra” para outro colega.
O sexto
e último tipo, é o “padrão”. Vale ressaltar que ser “padrão”
significa ser superior aos outros tipos em relação ao caráter e a
maturidade profissional. Esse tipo de profissional é automotivado. Sempre está
em busca de novos desafios. Não se conforma com regras pré-estabelecidas, pois
está sempre em busca de melhorias. Não se conforma com a mediocridade. Sabe
trabalhar em equipe. Sabe lidar bem com adversidades, seus medos e suas
frustrações. Parece ter energia infinita. Sua atitude acaba incomodando os
acomodados. Ele entrega mais do que é delegado e com qualidade superior à
esperada. É agente de mudanças. Ele tem com base em seu caráter a ética, a
verdade, a lealdade e confiança. Possui pleno equilíbrio emocional. Sabe
balancear seu tempo entre a empresa e a família. Ele entrega resultados. É um
líder natural da equipe. Na maioria das vezes, é considerado o
sucessor natural do líder.
Por
fim, diante do todo exposto, façamos agora uma reflexão conclusiva sobre a
pergunta tema do nosso artigo que é: Qual a importância de delegar para o
processo de gestão? Vejam que o ato de delegar nada mais é que um processo pelo
qual o líder obtém resultados por meio das pessoas. No entanto, nada ocorre tão
fácil assim como na definição, pois há muitas variáveis que travam o sucesso
desse processo, tal como já mencionado ao longo do texto acima. Vale ressaltar que
a componente chave desse processo é uma “máquina”
altamente complexa, as pessoas. Portanto, entender de gente e saber delegar é competência
fundamental para quem deseja ser um líder (gestor) que entrega resultados.
Para
você, leitor do meu artigo, é possível que na empresa que você trabalha possa
haver os tipos de “Liderança Dinossauro”
e/ou “Colaboradores Dinossauros” que
carinhosamente batizei assim devido ao fato dos dinossauros não mais existirem
nos tempo atuais. Na realidade, a natureza mudou de tal forma que seria
impossível que eles (dinossauros) estivessem entre nós. Daí, fazendo uma
analogia, pode-se considerar que os tipos “dinossauros”
de lideres e liderados não deveriam mais existir no atual ambiente
organizacional. O que não é verdade infelizmente.
Eu,
particularmente, já vivenciei ambientes organizacionais que tinham um ou os
dois tipos trabalhando juntos. Nestes casos, delegar de forma efetiva é
praticamente impossível. Neste contexto, é sine
qua non uma ação estratégica do departamento de recursos humanos em
conjunto com a alta direção no sentido de promover as mudanças necessárias na
cultura organizacional da empresa.
Vale
lembrar que a transformação cultural de uma empresa, principalmente relacionado
à implantação de uma nova filosofia, vai muito além do simples repasse de
informações, normas e procedimentos que todos devem seguir. A realidade da
mudança é de um processo complexo e que deve ser construído e sedimentado passo
a passo, pois envolve mudanças de hábitos, pensamentos, sentimentos e
percepções que antes estavam inseridos no dia-a-dia das pessoas e que fazem
parte da identidade da empresa.
Portanto,
esse ajuste na cultura organizacional deve começar a partir da criação de um
ambiente favorável para que a transformação ocorra, isto é, começando com a
extinção desses tipos de “dinossauros”. Caso contrário, o resultado não
aparecerá.