quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Diferença entre Preço e Valor, na Visão do Lean Manufacturing


Eu gosto muito de beber chá. Sendo assim, ao sair para comprar as folhas, tive uma experiência um tanto que decepcionante. Como dizia W. Edwards Deming: “Os defeitos não são de graça. Alguém os faz e é pago para fazê-los.” Ocorre que, na maioria das vezes, essas ineficiências são transferidas para o preço dos produtos e serviços.

O caso aconteceu em um empório, especializado em vender grãos e folhas para fazer o chá. Após a compra, já em casa, fui transferir as folhas da embalagem do saco de plástico para um pote de vidro. Para a minha surpresa, ao observar com mais atenção ao produto comprado, percebi que no meio das folhas haviam vários pedaços do caule da planta (vejam na foto).

É claro que as quantidades dos pedaços de caule causaram um aumento no peso e no valor final do produto. Sendo assim, voltei na loja para explicar o ocorrido e pedir uma reparação. A responsável pela loja, demonstrando indiferença pelo problema citado, disse apenas que não poderia refazer a venda e descontar o excesso de peso causado pelos pedaços de caule.

Frustrado pela minha solicitação não atendida e evitando o confronto, fui embora com a certeza de que nessa loja eu não voltaria para comprar nenhum outro produto. Portanto, um exemplo clássico de uma empresa que não entende a diferença entre preço e valor.

Já faz um tempo que estudo, aplico e ensino os conceitos e as técnicas do Lean Manufacturing. Nessa jornada contínua de aprendizado, reforço que um dos principais objetivos do Lean é o de maximizar o valor para o cliente. Nesse contexto, destaco que o grande desafio é a busca contínua por identificar claramente as atividades que agregam valor e aquelas outras que não agregam valor (os desperdícios).

Na visão Lean, o cliente está disposto a pagar somente pelas atividades que agregam valor. Sendo assim, para as empresas que desejam “Ser Lean”, o desafio primário é eliminar ou minimizar os tais desperdícios. O Lean classifica esses desperdícios em três tipos (3M). São eles: 1) Muda – São os desperdícios que incluem os excessos, as esperas e/ou os defeitos; 2) Mura – São as irregularidade ou variações que ocorrem nos processos, causando o desequilíbrio na carga de trabalho e o 3) Muri – São as sobrecargas de pessoas ou máquinas, podendo causar fadiga ou erros.

Se colocarmos tudo em um triturador, o efeito esperado será sempre por mais eficiência e eficácia dos processos, reduzindo custos, aumentando a qualidade e ainda entregando valor para os clientes. Portanto, as empresas procuram o Lean com intuito de desenvolver processos que estejam orientados para esse propósito.

Nessa busca contínua, enfatizo que o conceito de valor é o ponto central do Lean, pois estabelece um entendimento de que o cliente está disposto a pagar somente pelas atividades que agregam valor na produção e entrega de um determinado produto. Incluem-se aqui também o valor percebido sobre os serviços, com base nas preferências, expectativas e experiências dos clientes ao interagir com os produtos e serviços prestados.

É nesse contexto que a minha história contada serve de exemplo para entender a amplitude do Lean, pois as empresas necessitam urgentemente de uma mudança de paradigma. Uma transformação cultural da detecção de defeitos e desperdícios para o da prevenção. É entender que na venda de um produto ou serviço sempre haverá um cliente e um fluxo de valor. É entender que todos devem ser treinados a enxergar esse fluxo. É entender que o “ótimo” de um sistema (a empresa) é diferente da soma dos “ótimos” das partes que o compõem, vistas isoladamente (o funcionário).

Portanto, uma empresa que deseja “Ser Lean” é uma organização que entende claramente as inter-relações entre seu ambiente interno e externo, com visão sistêmica e estruturada nos macros e micros processos. Entendendo que somente quando os requisitos de cada cliente desses processos forem atendidos, a organização poderá realmente entregar valor e não somente o preço.