terça-feira, 14 de abril de 2015

Gestão Pública: delegar (empowerment)

Recentemente, o senador Aécio Neves acusou a Presidente Dilma de praticar uma ‘Renúncia Branca’. Segundo o senador, essa definição foi dada porque a Presidente entregou o comando político do governo para o vice-presidente Michel Temer (até então esquecido), o comando da economia para o ministro Joaquim Levy e ainda se tornando subordinada a decisão dos presidentes da câmara e do senado. Portanto, na opinião de Aécio, a Presidente se desligou totalmente da responsabilidade e do comando da Presidência do Brasil.
Transportando essa situação para o mundo da gestão corporativa, o que é isso afinal? Se analisarmos de forma imparcial a decisão da Presidente, sem olhar o contexto da atual situação política, poderíamos dizer que a Presidente está simplesmente delegando tarefas. Portanto, estaria praticando o termo em inglês empowerment, ou seja, a descentralização e delegação de poderes aos seus colaboradores com maior autonomia de decisão e responsabilidades.
Pode-se considerar que essa é uma das atribuições mais importantes do líder. Ao delegar, o líder deve fazer de forma flexível, diferenciada e de acordo com a maturidade de cada pessoa, dando aos colaboradores a liberdade para realizarem seu trabalho ao mesmo tempo em que se monitora o desempenho. A maturidade aqui destacada pode ser entendida como a capacidade do profissional para se adequar as diversas situações apresentadas, assumindo responsabilidades e gerindo seu trabalho efetivamente, mesmo sem precisar da interferência direta do líder. No entanto, ao perceber que o colaborador não está ainda no nível de maturidade desejada, ou ainda em uma situação de crise, o líder pode e deve assumir o papel de “coach” e agente da mudança, puxando para si a responsabilidade e o acompanhamento de todo o desenvolvimento do trabalho a ser executado para assim garantir os resultados necessários. Portanto, deve-se delegar com inteligência, de forma situacional e de acordo com o jeito de ser de cada pessoa. Para isso, o líder deve adotar estilos diferentes para cada profissional do seu time. Principalmente, se nessa equipe há pessoas com os níveis variados entre o júnior, pleno e sênior.
Vale ressaltar que o ato de delegar é totalmente diferente de “delargar”. O ato de “delargar” é simplesmente “passar o macaquinho”, ou ainda a “batata quente”, para o seu colaborador. Quando isso ocorre, trata-se da forma mais danosa e dissimulada que alguns “líderes” adotam para se esquivar de determinadas situações constrangedoras devido à falta de competência e credibilidade para conduzir determinadas tarefas e assim produzir os resultados esperados. Portanto, trata-se de uma ação maquiavélica e intencional para “queimar” o colaborador no lugar do “líder”. Nesse caso, se algo sair errado, será muito mais fácil colocar a culpa no colaborador que conduziu a tarefa e assim promover a substituição do mesmo.
Voltando para a acusação de Aécio, faz-se necessário uma visão sistêmica do cenário brasileiro, a fim de entender as razões do uso da expressão ‘Renúncia Branca’. Para isso, apresento algumas informações que explicam o contexto atual. Por exemplo: o Ibope divulgou pesquisa na última quarta-feira (10) que Dilma Rousseff aparece com uma aprovação de apenas 12% e que 74% das pessoas não confiam na Presidente. Já o Banco Central prevê para 2015 um crescimento (PIB) ZERO para o Brasil e inflação anual perto dos 8%.
Além desses dados, há também os constantes casos de corrupção (desvios dos recursos públicos) descobertos pela Policia Federal (ex: Petrobras, Eletrobras, BNDES, Fundos de Pensão, CEF e outros). Também as várias promessas de campanha que não foram cumpridas, qualificando a Presidente como mentirosa. Sem contar com uma aparente atitude que tenta camuflar as irregularidades cometidas pelos “companheiros” do seu partido (PT) e também os aliados. Portanto, fatos e dados que desqualificam a competência e a credibilidade da liderança do governo Dilma.
A conclusão é que o governo desconsidera as características necessárias de um verdadeiro líder. O fato é que a competência e a credibilidade não podem ser negligenciadas, pois não há como manter um líder sem a integração dessas duas qualificações. Ser líder vai muito além do simples ato de comandar ou delegar. Liderar é o produto entre os atributos reais daquilo que você é e faz, bem como os resultados que você entrega. O líder é aquele que consegue cooperação, respeito e confiança da organização (povo) que dirige, principalmente pelo próprio exemplo.