quarta-feira, 15 de junho de 2016

Gerenciamento de Projetos em Obras Públicas

Frequentemente, percebemos obras desabando, inacabadas, superfaturadas, excesso de créditos suplementares, obras sem projeto base e executivo, falhas nos prazos e custos planejados, material usado de qualidade ruim e entre outros. Já escrevi muito sobre a causa desses problemas sendo a corrupção. No entanto, vou escrever agora sobre outra causa mais técnica. Trata-se da falha generalizada no Gerenciamento de Projetos em obras públicas.
Vale destacar que os projetos estão inseridos em quase todos os processos das organizações, pois são instrumentos técnicos para qualquer mudança e-ou produção de produtos e serviços. Os projetos podem envolver uma pessoa, centenas ou milhares de envolvidos. Os projetos podem ter duração de alguns dias, meses ou anos. Os projetos possuem início e fim preestabelecidos. Desta forma, faz-se necessário o efetivo gerenciamento de recursos e pessoas, a fim de atingir objetivos predefinidos.
Assim como tudo na vida, os projetos também possuem um ciclo de vida. Na verdade, existem dois tipos: O ciclo de vida do projeto e o ciclo de vida do gerenciamento do projeto. O ciclo de vida do projeto serve para gerenciar a elaboração progressiva do projeto e o seu controle. Desta forma, são divididos em fases que possuem características para cada projeto. Por exemplo, em obras da construção civil: viabilidade, planejamento, desenho, construção e entrega. Já o ciclo de vida do gerenciamento do projeto descreve os processos que devem ser seguidos para uma boa gestão. De acordo com o PMBoK (guia do gerenciamento de projetos), classifica-se em 5 grupos: iniciação, planejamento, execução, monitoramento/controle e encerramento. É como se fosse um ciclo PDCA (plan, do, check, act). Vale lembrar que esses grupos devem funcionar de uma forma integradora entre si.
Outra condição imprescindível do gerenciamento de projetos é a documentação. De forma genérica, os principais documentos do projeto são: termo de abertura do projeto, declaração do escopo de projeto e plano de gerenciamento do projeto. Neste contexto, vale destacar as partes interessadas que são os indivíduos e as organizações ativamente envolvidos no projeto. Portanto, podendo influenciar positivamente ou negativamente o desenvolvimento e os resultados do projeto. São eles: o gerente de projeto, o cliente, a organização executora, os membros da equipe do projeto, o patrocinador, a sociedade, a equipe, o usuário final e fornecedores.
Dentre esses, destaco o Gerente de Projetos (GP). É ele o responsável pela gestão de todas as fases do projeto, bem como a integração dos vários processos e relacionamento com as partes interessadas, a fim de obter o sucesso na conclusão e entrega dos projetos dentro do prazo planejado, com qualidade e custo satisfatório. O GP deve ter sua competência reconhecida por meio de resultados prévios. Não precisa ser um especialista na área do projeto, mas é necessário possuir um conhecimento generalista e sistêmico. Ele deve ser proativo, organizado e com forte competência e autoridade para tomar decisões.
Dentre as várias características acima mencionadas, a função de integrador é uma das mais importantes. É o GP que irá proporcionar a integração e sinergia de todas as engrenagens (recursos e pessoas) que fazem funcionar o projeto. Cabe ao GP elaborar e coordenar todo o planejamento, assim como a execução e modificações que surjam durante todas as etapas, até o encerramento do projeto. Portanto, o GP é a peça-chave para o sucesso da Gestão do Projeto.
Há também o escritório de projetos (Project Office) que tem como objetivo orientar e dar suporte aos gerentes de projetos, permitindo que a organização desenvolva vários projetos de forma simultânea, com eficiência e eficácia. Algumas condições são necessárias para que o escritório de projetos funcione. Tais como: o papel do Project Office deve estar claramente definido, a alta administração deve estar comprometida e o escritório de projetos deverá utilizar processos e técnicas de gerenciamento de projetos específicos para cada projeto.
Voltando ao início sobre as falhas no gerenciamento de projetos públicos, muitas vezes causada pela incapacidade técnica e/ou a falta da figura do GP. Reforço que não há justificativa para tantos erros cometidos. Contudo, destaco o processo das “lições aprendidas” como uma ferramenta extremamente importante para a melhoria continua do Gerenciamento de Projetos. Trata-se de avaliar erros e acertos, a fim de identificar o que poderia ser evitado e o que poderia ser melhorado. Desta forma, para o sucesso do processo de aprendizado, recomendo estabelecer uma documentação histórica dos eventos do projeto, a fim de registrar o aprendizado das experiências passadas (boas e ruins).