quarta-feira, 22 de junho de 2016

O Caos das Contas Públicas e o Desrespeito a Lei de Responsabilidade Fiscal

Esta semana, o Governo Federal concedeu um socorro financeiro de R$ 2,9 bilhões ao Estado do Rio de Janeiro. Essa ajuda está justificada para a segurança dos jogos olímpicos. Na verdade, essa medida é apenas um detalhe no grande caos financeiro que o Estado do Rio se encontra, pois o Rio de Janeiro já havia decretado estado de calamidade pública em razão da grave crise financeira do Estado.
Aliás, é bom lembrar que esse “estado de calamidade” é de todo o país. Por exemplo, o aumento da Dívida Pública Federal (DPF) que bateu o recorde em 2015 com R$ 2,763 trilhões e irá ultrapassar a marca de R$ 3 trilhões neste ano (Fonte: Plano Anual de Financiamento da Dívida Pública). Também o rombo nas contas do Governo Federal (despesa maior que a arrecadação) que já está em R$ 170,5 bilhões. Neste cenário de caos e sem solução em curto prazo, o governo decidiu suspender a cobrança da dívida dos estados até 2017. Em resumo, o governo vai empurrando com a barriga a herança maldita de um ciclo vicioso que nunca acaba.
A verdade do estado do Rio de Janeiro é que não há mais nenhum equilíbrio nas contas financeiras do Estado. O caos já é uma realidade, onde já há servidores sem receber salários, hospitais negando atendimento por falta de recursos, parcelas de empréstimos não pagas, obras parando e entre outros. A previsão é que o caixa do Estado feche as contas de 2016 com um déficit de R$ 19 bilhões.
O problema do Rio de Janeiro é um exemplo clássico do que ocorre em todos os outros estados, incluindo o Governo Federal. Para explicar melhor, relembro que o Rio possui um dos maiores parques de petróleo do Brasil. Neste sentido, por um longo tempo, contou com a receita dos royalties para a Gestão financeira do Estado. Ocorre que a Gestão errou em contabilizar esses recursos como se fossem permanentes e ainda aumentou consideravelmente as despesas contínuas (ex: folha de pagamento de pessoal). Agora, com a crise instalada no país, corrupção e PIB em queda livre, a arrecadação geral já está com a receita muito menor que as despesas. Além, claro, da queda dos tais royalties que antes eram abundantes. A realidade agora é que o Estado do Rio se depara com a obrigação de sustentar as despesas que ele mesmo aumentou descontroladamente. Portanto, segue o mesmo que todos os outros estados têm feito em relação ao funcionalismo público, ou seja, o empreguismo gigantesco na máquina pública.
A triste realidade é que os estados estão “rasgando” a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Infelizmente, a Lei que veio estabelecer normas de finanças públicas para a responsabilidade na gestão fiscal, está sendo pouco a pouco destruída. Explico melhor: É a LRF que determina aos estados, municípios e união às ações planejadas e transparentes para a prevenção de riscos e correção de desvios que afetam o equilíbrio das contas públicas. É a LRF que orienta a redução das operações de crédito, a fim de reduzir a dívida pública. É a LRF que determina o equilíbrio entre receitas e despesas. É a LRF que estabelece limites a expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado (exemplo: folha de pagamento com pessoal). É a LRF que estabelece metas para obtenção do equilíbrio nas contas públicas.
O fato é que esse desrespeito a LRF tem causado danos insustentáveis a Gestão Financeira pública. No caso da folha de pagamento de pessoal, que representam um dos principais descontroles do setor públicos brasileiro, o conjunto dos Estados brasileiros gastam em média 70% de suas receitas líquidas com pagamento de pessoal. Desta forma, significa que restam apenas 30% para a realização dos serviços públicos básicos, como educação, saneamento, saúde e segurança, sem considerar a manutenção de estradas e vias urbanas, a preservação do patrimônio público e entre outros. Neste sentido, percebe-se um total descaso com a LRF que visa simplesmente estabelecer regras e limites para que o administrador público cumpra o papel que a sociedade lhe atribuiu, ou seja, proporcionar bem-estar à população, a partir dos recursos que lhe são entregues na forma de impostos. No caso das despesas com pessoal, esses limites são: União – 50%; Estados – 60% e Municípios – 60%.
A verdade é que o caos atual é reflexo de gestores e políticos sem nenhum interesse e compromisso com a coisa pública. A grande maioria pensa apenas nos próprios mandatos e ganhos particulares, acima do interesse público do município, estado e país. Os atuais resultados das contas públicas também refletem o despreparo e falta de gestores com competência para gerir os recursos de forma efetiva, a fim de tornar a máquina pública enxuta e eficiente. O triste é saber que em breve a bolha da dívida pública irá estourar. Infelizmente, a herança maldita dessa conta será paga por nós - os contribuintes brasileiros.