quinta-feira, 12 de março de 2015

A Complexa Tarefa do Gerenciamento de Pessoas e Conflitos

Dentre os vários desafios de ser um líder, gerenciar pessoas e conflitos é uma das tarefas mais importantes para qualquer GERENTE. Liderar pessoas requer uma combinação de várias competências e, acima de tudo, bom senso. O mais importante é reconhecer que não há uma fórmula secreta ou uma norma que poderá ser usada como padrão para todos os “tipos” de colaboradores e situações. Na realidade, apesar da vasta teoria existente sobre o tema, faz-se necessário um ajuste na abordagem para cada pessoa. Quero dizer que cada pessoa é um ser humano único. Portanto, deve ser liderado conforme as características que lhe são próprias.
Algumas pesquisas sobre a origem dos problemas empresariais indicam que 30% estão relacionados com causas técnicas (Máquinas) e 70% estão relacionados com causas comportamentais (Pessoas). Essas informações podem ser assustadoras, considerando a complexidade das relações humanas. Vale ressaltar, que para cada máquina operando, sempre há uma pessoa executando uma operação ou manutenção. Portanto, pode-se dizer que o ser humano está inserido em qualquer tipo de situação.
Nesse contexto, entender de gente (pessoas) é uma condição sine qua non para quem deseja obter resultados em uma organização, seja ela pública ou privada. Portanto, todo profissional que pretende a um cargo de liderança necessita entender os motivos pelo qual algumas pessoas agem de determinada maneira no trabalho, as formas de influenciar, as necessidades, as motivações, os sentimentos, a disciplina, os relacionamentos, as expectativas e entre outras coisas.
Certa vez, na minha primeira semana de trabalho, em uma determinada empresa, fui chamado pelo Diretor e o Gerente de RH para uma conversa informal. Durante nosso bate papo, ambos me repassaram uma lista com 05 nomes de funcionários da minha nova área. Na ocasião, eles informaram que essa lista havia sido elaborada pelo antigo gerente e que se tratava de pessoas que deveriam ser desligadas pelo motivo de atuarem como lideranças negativas.
No primeiro momento, fiquei meio duvidoso sobre os motivos que geraram a lista. Contudo, o Diretor e o Gerente de RH foram além dos nomes e me mostraram alguns fatos que realmente comprovavam o perfil de cada um daqueles citados na “lista negra” (advertências escritas). É claro que aquela lista era uma ordem para a execução sumária de uma decisão já tomada antes da minha entrada. Portanto, eu simplesmente teria que obedecer e realizar um fato já consumado.
Entretanto, aproveitando do meu prestígio de novo Gerente da área, solicitei um tempo para que eu pudesse conversar com cada um colaborar listado, bem como um prazo para que eu pudesse reavaliar a situação e assim participar da tomada de decisão de forma mais ativa e não passiva. Claro que minha solicitação foi aceita, porém, com a premissa básica de que eu seria responsabilizado por novos incidentes, caso ocorresse.
Na realidade, 01 colaborador dessa lista exercia de fato uma função de liderança e os demais 04 eram operacionais. Ocorre que, na minha primeira semana trabalho, ainda não havia notado nenhum comportamento inadequado da parte deles. Na realidade, eles estavam realmente quietos por se tratar de um novo Gerente na área. Dessa forma, estavam mesmo é esperando para ver como seria meu estilo de liderar e assim mostrar o real perfil que cada um exercia na área.
Muitas vezes, liderados reagem de acordo com o estilo do líder. Qualquer líder exerce forte influência sobre seus colaboradores, seja positivamente ou negativamente. Todo líder pode ser ativo ou passivo nessa relação. Na verdade, o sucesso das organizações está diretamente ligado com as atitudes, comportamentos, relações e exemplos dos lideres para com os liderados.
Após estudar o perfil de cada um, chamei um por um para uma conversa individual sobre a situação, pois, meu estilo é ser bem claro e objetivo quando na solução de um problema. Nesse caso, para cada um deles, esclareci totalmente a situação sobre a reputação deles de atuarem de forma negativa e ainda com registros comprovando tais situações. É claro que não falei da lista. Contudo, deixei claro que o Gestor anterior já havia decidido por desligá-los. O pior caso dentre eles, era um membro eleito da CIPA (Comissão Interna de Acidentes). Na realidade, esse se valia pelo fato de estar protegido por uma estabilidade legal.
Ocorre que, apesar de mostrar os fatos registrados e a minha exposição direta e objetiva, nenhum deles admitiu o perfil negativo. O da CIPA ainda fez questão de me lembrar da estabilidade por conta da lei. Em resumo, todos realmente eram indisciplinados e “culpados”, porém, não reconheciam os atos cometidos. No final de cada encontro, após conversa individual, coloquei a seguinte situação para cada um: “Há dois caminhos a seguir daqui por diante. Um caminho levará a sua demissão sumária imediata e o outro caminho você poderá ter uma nova chance de reabilitação. Qual caminho você deseja seguir?”.
Como esperado, todos aceitaram continuar trabalhando. Contudo, lancei um desafio para todos. Como de costume, eu gosto de envolver o nível operacional para, junto com a engenharia, empreender projetos de melhorias e reduzir custos. Nesse caso, todos foram alocados em projetos diferentes e de acordo com a função que cada um exercia na área. Vale lembrar que, apesar do comportamento rebelde, todos tinham uma boa formação técnica com treinamentos realizados dentro da própria empresa.
O resumo da história é que todos foram reabilitados em relação ao comportamento e a disciplina. Todos estavam participando ativamente nos projetos, inclusive com resultados relevantes. Aquele que era da CIPA foi um dos que mais se destacou nos projetos. Como forma de reconhecimento e motivação, a cada final de mês, eu promovia um evento para a entrega de certificados e prêmios. Em determinado momento, vários deles foram agraciados nesses eventos. Vale lembrar, que após um determinado tempo, eu mesmo fui devolver a tal “lista negra” para o Diretor e o Gerente de RH.
No fim, nenhum deles foi desligado. Pelo contrário, nossa relação ficou muito boa. Cada um, com seu conhecimento e jeito de ser, contribuiu com grandes projetos dentro da área. Alguns foram até promovidos com o tempo e até hoje mantém contato comigo. Um, por exemplo, toda vez que faz o famoso peixe Tambaqui assado na brasa, me chama pra comer em sua casa.
Não quero aqui dizer que a minha forma de lidar com a situação é a correta e as outras estão erradas. O exemplo apenas ratifica o que eu disse logo no começo do texto. Para qualquer Gerente é muito fácil demitir, pois o poder de decisão do cargo é muito grande. Nós Gerentes podemos decidir e afetar toda a carreira profissional e estabilidade familiar de uma determinada pessoa. Eu realmente acredito que o maior desafio de um Gerente é resgatar pessoas, ajudá-las a crescer, fazer essa pessoa entregar resultados, fazer com que ela possa contribuir para o todo, promover a interação positiva dessa pessoa com o resto do time, etc.
No entanto, há casos e casos. Alguém pode até pensar: "O Marcelo é um Gerente bonzinho". A resposta para esse pensamento é que não sou bonzinho e nem um ditador. Eu mesmo já fiz o desligamento de várias pessoas em situações e necessidades diferentes. Contudo, eu realmente acredito que todas as pessoas precisam de uma segunda chance. Como falei antes, o bom Gerente é aquele que realmente procura entender os motivos do comportamento de cada um e assim estabelecer estratégias para que a pessoa (time) possa entregar resultados.
Quando procuramos entender o funcionamento do ser humano, nós nos tornamos melhor. É preciso reconhecer que não há como chegar aos resultados desejados sem que haja o envolvimento adequado das pessoas. O (L) líder é o produto entre os (A) atributos daquilo que ele é e faz, e os (R) resultados que ele entrega (L = A x R).
Os resultados compreendem tudo aquilo que satisfaz os interesses das partes interessadas em um negócio, tais como: os sócios, os colaboradores, o governo, a sociedade, os clientes, os fornecedores, entre outros.
Infelizmente, os novos profissionais são mais técnicos e menos lideres. É comum ouvir a frase que diz: “é um bom engenheiro, mas péssimo para liderar pessoas”. É claro que isso pode ser mudado. Todo profissional pode sim desenvolver a liderança, através de muito treinamento e vivencia prática.
Vale lembrar que os tipos e estilos de liderança dependem centralmente dos paradigmas que essa organização professa no seu dia a dia (a Cultura Organizacional). Portanto, um estilo de liderança que deu certo em uma empresa não necessariamente vai servir para outra empresa. Dessa forma, recomendo um ajuste contínuo do perfil de acordo com cada situação vivenciada e também da maturidade de cada pessoa ou time de trabalho.