domingo, 15 de março de 2015

O Nosso Brasil e a Crise na Gestão Pública

Infelizmente, além da corrupção que tomou conta do nosso Brasil, vivemos também uma crise na Gestão Pública. Nossos “gestores” públicos ignoram os princípios básicos da excelência (Eficácia + Eficiência = Efetividade = Competitividade). Ocorre que a solução para o país não é tão simples, pois, na esfera pública, não há somente fatores técnicos envolvidos, mas também fortes interesses partidários que acabam esmagando qualquer modelo de gestão baseado na meritocracia com foco em objetivos, metas, competitividade e resultados.
Em uma simples comparação dos atuais modelos da Gestão Pública com os da Gestão Privada, teoricamente falando, percebe-se que há grandes semelhanças. Portanto, não há que se inventar a roda e nenhum método novo ou fórmula mirabolante para resolver essa tal crise de gestão. Alguns podem até achar que ser público é diferente de ser privado. Outros podem dizer que a Gestão Pública deve ser entendida como algo mais amplo do que a interpretação da Gestão Privada, uma vez que compreende um número maior de dimensões que aquelas usadas nas empresas, isto é, não são somente os resultados, os clientes e a competição de mercado.
Na verdade, os órgãos públicos podem sim ser excelente sem deixar de ser público. Vejam que até mesmo as dimensões básicas da Gestão de Negócios estão sendo negligenciadas. Atualmente, temos vários exemplos que contradizem a efetividade da atual Gestão Pública. Vejam que os resultados falam mais forte que qualquer comentário sobre qual o modo de operação é o mais eficiente e eficaz entre o público e o privado (ex: Petrobras).
Como falei antes, teoricamente falando, a Gestão Pública no Brasil está sim bem servida. Vejamos alguns exemplos que poderíamos estar seguindo, se o modo de operação pública fosse igual ao das empresas privadas. O primeiro é o GESPÚBLICA. Trata-se de um Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização que tem o objetivo de estabelecer uma estratégia para a implantação de um modelo referencial de gestão pública e assim desenvolver ações de apoio técnico aos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, a fim de mobilizar, preparar e motivar todos para a atuação em prol da inovação e da melhoria da gestão. Vale ressaltar que esse programa é gerido, ou deveria ser, pela Secretaria de Gestão Pública – SEGEP, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Outro exemplo, ainda ratificando que não há o que se inventar como modelo de gestão, é o artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que diz: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.
Esses princípios da Gestão Pública já falam por si só. Porém, segue uma breve definição de cada um dos princípios que deveriam nortear a excelência na gestão pública. (i) A Legalidade: estrita obediência à lei. Nenhum resultado poderá ser considerado bom, nenhuma gestão poderá ser reconhecida como de excelência à revelia da lei; (ii) A Impessoalidade: não fazer acepção de pessoas. O tratamento diferenciado restringe-se apenas aos casos previstos em lei.  A cortesia, a rapidez no atendimento, a confiabilidade e o conforto são requisitos de um serviço público de qualidade e devem ser prestados a todos os cidadãos-usuários indistintamente; (iii) A Moralidade: pautar a gestão pública por um código moral. Não se trata de ética (no sentido de princípios individuais, de foro íntimo), mas de princípios morais de aceitação pública; (iv) A Publicidade: ser transparente, dar publicidade aos fatos e dados. Essa é uma forma eficaz de indução ao controle social; (v) A Eficiência: fazer o que precisa ser feito com o máximo de qualidade ao menor custo possível. Não se trata de redução de custo de qualquer maneira, mas de buscar a melhor relação entre qualidade do serviço público prestado e o correspondente gasto público.
Nessa nossa breve reflexão, alguém ainda poderia perguntar: por que então os “gestores públicos” não seguem simplesmente o que está escrito na carta magna? Será que eles realmente entendem o significado de cada princípio acima mencionado? Será simplesmente falta de motivação e vontade em realizar? Será falta de competência? Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra "incompetência" pode ser classificada como imperícia, inabilidade, inaptidão, incapacidade e inexperiência. Incrível como uma única palavra pode ter tantos sinônimos e causar tantos estragos na gestão pública.
É triste constatar que, em muitos casos, até mesmo os servidores do nível tático e operacional não compreendem a real importância da participação e do comprometimento com a missão da organização pública. Vejam que não há nenhuma novidade nos princípios acima descritos. Digo isso porque toda essa teoria é muito repetida nos modelos que existem, até em outros países. A Administração Pública precisa aprender a eliminar os desperdícios, reduzir os custos e elevar o valor da excelência dos serviços entregues.
Minha conclusão pessoal é que o problema da gestão pública brasileira está na falta da interação entre teoria e prática da grande maioria das pessoas que gerenciam o setor público, o que resulta em políticos e profissionais sem preparação e sem motivação para realizar os princípios da excelência em gestão. Em resumo, existem muitas pessoas ocupando posições públicas que não possuem capacidade técnica e nem de gestão para desempenhar adequadamente uma determinada tarefa ou missão. É claro que somado a corrupção e o partidarismo, tudo isso se torna absolutamente insustentável.
Acredito fortemente que é necessário mudar a atual cultura pública para os moldes operacionais de uma cultura de organização privada. Devemos começar mudando os gestores. Elegendo alguém que pode até ser político, mas, principalmente, que seja um GESTOR GERENTE de fato. Precisamos sim de um choque de Gestão, mas também de um choque de Ética, Moral e Patriotismo.
Quando o setor público fizer uso dos métodos, técnicas e ferramentas de forma integrada uma com as outras, nós teremos um sistema público com uma gestão excelente. Quando esse sistema público for praticado e defendido por todas as pessoas, em todos os níveis, nós teremos uma cultura pública excelente. Lembrem-se: “Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito" - Aristóteles.