
É cada vez mais comum ver
empresas mergulharem de cabeça na corrida pela Indústria 4.0, impulsionadas por
dicas de "consultores 4.0" que orientam investimentos expressivos em
sensores, automações, robôs, softwares e aumento da infraestrutura de TI. O
foco, muitas vezes, está em capturar o máximo possível de dados, como se o
simples fato de armazenar grandes volumes de informações fosse, por si só,
sinônimo de inteligência operacional.
Mas o que realmente está sendo
feito com todos esses dados?
O que se observa, na prática,
é um volume imenso de dados sendo gerado e armazenado continuamente, sem que
exista uma estratégia clara para análise, interpretação e aplicação desses
dados na tomada de decisão. Vejo que as empresas estão construindo verdadeiros
“cemitérios de dados” com repositórios gigantescos, caros de manter, que pouco
ou nada contribuem para melhorar a eficiência, reduzir desperdícios ou aumentar
a lucratividade.
A ausência de uma cultura
orientada por dados e a falta de competências analíticas dentro das
organizações transformam um ativo valioso em um passivo silencioso. Dados que
não são utilizados representam desperdício de tempo, dinheiro e energia. O pior
é criar uma falsa sensação de modernização e avanço tecnológico, quando, na
verdade, apenas encobrem problemas estruturais que continuam não sendo
resolvidos.
Para ilustrar o que digo,
registro que recentemente atuei em um projeto no qual, sem sugerir nenhum
investimento em tecnologias 4.0 e sem criar mais acúmulo de dados, conseguimos
gerar mais de R$ 2.600.000,00 ao ano em redução de custos. Como? Simplesmente
utilizando os dados que já existiam, mas que nunca haviam sido analisados com
profundidade ou direcionados para decisões estratégicas.
É bom sinalizar que este texto
serve apenas como alerta sobre um equívoco recorrente na crença de que o
acúmulo de dados é sinônimo de transformação digital. Não é! O valor dos dados
está no uso inteligente, na análise crítica e na capacidade de transformá-los
em ações e soluções concretas. Armazenar dados sem propósito é apenas
empilhar bytes. Usá-los com inteligência, sim, é o que realmente torna uma
empresa mais competitiva e eficiente.
Portanto, minha recomendação
é: antes de buscar mais tecnologia e seguir conselhos de "consultores
4.0", é preciso extrair valor daquilo que já está disponível. A verdadeira
revolução 4.0 começa com propósito, estratégia e, principalmente, com o uso
consciente da informação.