segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Excelência Operacional: Desenvolvimento de um Modelo para a Gestão da Mudança e o Aprendizado Organizacional

Nesse artigo, explico como funciona o modelo de gestão que menciono no artigo anterior. Na realidade, recomendo a leitura dos outros artigos que escrevo sobre ‘Gestão da Mudança’, a fim de entender o contexto do estudo de caso que vou relatar agora.
Esse Modelo de Gestão é um modelo desenvolvido durante o meu mestrado e que acabou sendo o objetivo da minha dissertação. Trata-se de uma pesquisa-ação, que por meio de um estudo de caso, foi desenvolvido e aplicado em uma indústria multinacional.
Em uma breve descrição da empresa escolhida para o desenvolvimento do projeto, destaco que a mesma possui uma fábrica localizada no PIM (Pólo Industrial de Manaus). Basicamente, a planta está composta por cinco processos (departamentos) produtivos: Estamparia, Injeção Plástica, Pintura e Montagem, além de outras áreas de suporte, tais como: Manutenção, Engenharia, Recursos Humanos, Compras, Engenharia, Materiais, Manutenção, entre outros. Em relação a mão de obra, a empresa possui aproxidamente 700 funcionários entre diretos e indiretos.
Para o desenvolvimento do modelo, utilizamos as ferramentas (técnicas) da Manutenção Produtiva Total (MPT), do 5s-housekeeping e do Kaizen que foram aplicadas nos setores de Produção da Estamparia e na Oficina de Manutenção. Essas áreas foram definidas na reunião de abertura do projeto entre o consultor (eu) e a alta administração, pois, segundo informações dos mesmos, a área de estamparia era considerada o “gargalo” da fábrica. A direção informou que as máquinas apresentavam altos índices de peças defeituosas e quebras constantes dos equipamentos, os quais comprometiam os resultados do processo produtivo.
O setor contava com 04 prensas de estampagem que funcionavam em série, o qual respondia pela fabricação de 8 componentes diferentes. As máquinas em questão também foram confirmadas como crítica pelos colaboradores participantes do estudo de caso (operadores e técnicos), pois, tratava-se do equipamento que mais apresentava problemas para a empresa.
A oficina de manutenção também foi uma área escolhida para aplicar o modelo, pois apresentava alto grau de abandono em relação aos 5s, portanto, requerendo uma mudança efetiva na organização e ambiente de trabalho.
A ideia era fazer com que ambos, operadores e técnicos, trabalhassem em equipe para mudar as duas áreas, além de promover um ambiente de sinergia entre cliente interno (operadores) e fornecedor interno (manutenção).
As etapas do estudo de caso que compreendiam o modelo de gestão foram as seguintes: patrocínio, sensibilização, diagnóstico, kaizen, padronização, resultados, reconhecimento e replicação horizontal. Portanto, para por em prática o modelo, seria necessário girar em um ciclo no sentido horário. Entretanto, deve-se observar que o início do ciclo dever ser sempre pela etapa do patrocínio, sem o qual é impossível estabelecer um processo de mudança. Vale lembrar que seguir a sequência estabelecida pelo modelo, sem suprimir etapas, é fundamental para o sucesso do mesmo.
Antes de começar explicando cada uma das etapas, inicio mostrando o que há no centro do modelo um processo de comunicação. Esse processo atua de forma decisiva para o bom funcionamento do ciclo, sem o qual não é possível alavancar os resultados desejados. Portanto, é a comunicação que garante o funcionamento de forma integrada das 08 etapas do modelo.
Na primeira etapa, realizei uma apresentação inicial do modelo para a empresa por meio de uma reunião com a alta administração (diretor e gerentes), a fim de explanar os objetivos, os métodos, as etapas a serem realizadas e os resultados esperados. Foi nesse momento que se definiram as áreas que primeiramente seria aplicado o modelo, bem como foram definidos os participantes do estudo, tais como: o patrocinador e os colaboradores que fazem parte ativa na execução das atividades.
Vale ressaltar que há uma necessidade primária de se definir os papéis para o processo de mudança, tais como: O patrocinador no nível hierárquico adequado (o gerente da área piloto), provendo recursos e suporte; Os agentes de mudanças (os colaboradores participantes do estudo) que foram capacitados para atuar ativamente no processo de mudanças; O “advogado” e agente da mudança (Eu, o pesquisador-consultor) que irá conduzir e atuar em conjunto com os colaboradores e demais atores do processo; Os objetos de mudança (os colaboradores participantes, o ambiente organizacional e os indicadores de desempenho da área escolhida).
Na segunda etapa, realizamos a sensibilização de todos os participantes da área escolhida por meio de um treinamento in company (treinamento realizado dentro das dependências da empresa) com carga horária de 40 horas, pelo qual abordamos os principais conceitos, ferramentas e técnicas utilizadas no estudo.
Antes do início do treinamento, realizamos também uma pequena cerimônia de abertura do projeto que contou com a participação da alta administração, os quais reafirmaram o compromisso com a mudança. Na ocasião, os gestores tiveram a oportunidade de expor os alguns tópicos em destaque: destaque para a pergunta “por que estamos aqui?”; destaque para a importância da capacitação por meio do treinamento; destaque para os participantes que serão pioneiros no projeto, portanto, tornar-se-ão referência na empresa; destaque para os benefícios adquiridos com o novo aprendizado e destaque para as expectativas da empresa.
Vale ressaltar que treinar se define como tornar alguém hábil, destro para o desempenho de alguma atividade, exercitar. Nesse contexto, o treinamento serviu para desenvolver o conhecimento básico e científico dos conceitos, filosofias, ferramentas e técnicas que foram utilizados no desenvolvimento do modelo. Ainda nesta etapa, foram formados os times de kaizen com a distribuição das responsabilidades de cada participante.
Na terceira etapa, todos juntos realizamos um diagnóstico do estado atual nas áreas, o qual serviu como base pré-liminar para as ações de mudança. O diagnóstico é o resultado da visita ao local de trabalho dos participantes e tem como objetivo descrever os entraves constatados nas áreas estudadas por meio do convívio diário com os colaboradores dos setores de manutenção e produção da empresa. Portanto, reflete o resultado das observações do consultor somado as percepções dos colaboradores.
O diagnóstico começou com a aproximação do consultor e os participantes da pesquisa, a fim de “auscultar” os problemas existentes na área por meio de uma conversa informal. Foi nesse momento que o pesquisador procurou observar, conhecer, inquirir e analisar os dados e fatos que ajudaram a identificar os aspectos formais (visíveis) e os informais (invisíveis) dos processos de trabalho, os fluxos de comunicação e as inter-relações entre as áreas cliente (produção) e fornecedor (manutenção) interno.
Os participantes também se deslocaram para as áreas, os quais tiveram a oportunidade de fazer in loco uma auto-avaliação da situação atual. Os mesmos registraram todas as irregularidades constatadas durante a verificação, considerando todo o aprendizado teórico adquirido durante o treinamento de sensibilização. As equipes também procuraram verificar oportunidades de melhorias para aumentar a segurança no trabalho, melhorar a qualidade do processo, otimizar a execução da operação, reduzir os custos relacionados ao trabalho e melhorar a condições ambientais da área, entre outros.
Vale ressaltar que um diagnóstico pode começar simplesmente com um comentário do tipo “as coisas não estão fluindo tão bem como costumava acontecer” ou “por que os resultados de tal ação estão abaixo do esperado?”. O diagnóstico também pode juntar informações e incluir a análise de documentos existentes, observação das rotinas cumpridas pelos recursos humanos ou entrevistas e conversas com as pessoas que se relacionam com a organização.
Na quarta etapa, as atividades previamente planejadas foram efetivamente realizadas, aplicando na prática os conceitos e ferramentas da mudança. A finalidade, portanto, foi efetuar as contramedidas para os problemas detectados durante a etapa anterior e ainda outros que porventura poderiam aparecer durante os trabalhos de “aprender fazendo”.
Nessa etapa, o kaizen foi um momento de intensa atividade prática no gemba da produção e da manutenção, pois todos os participantes tiveram a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos no treinamento da etapa de sensibilização. O efeito desse processo foi o efetivo comprometimento de toda a equipe em todas as ações planejadas, pois, verificou-se que todos os participantes estavam unidos por um objetivo comum.
Vale ressaltar que as empresas devem articular uma relação de confiança e compreensão entre os membros da organização, a fim estimulá-los a trocar informações e criar ambientes organizacionais que facilitem a socialização do conhecimento, pré-requisitos para a criação de um ambiente de aprendizagem.
O momento também capacitou os participantes a mudar o estado atual que eles próprios haviam diagnosticado, portanto, tiveram a oportunidade de experimentar um ambiente de aprendizado, além do desenvolvimento da criatividade por meio da captação das ideias inovadoras e da captação do conhecimento tácito dos operadores e técnicos. Ainda nessa etapa, fez-se a integração das ferramentas da MPT e os 5s, deixando claro que a implementação de uma depende da outra, o qual deve começar com a limpeza básica, inclusive do piso da área de trabalho e, posteriormente, das áreas, máquinas e locais de difícil acesso que contribuem para o acumulo de sujeiras, causando quebras e defeitos.
É nesse contexto que o desenvolvimento humano se torna a essência para o sucesso da aplicação de qualquer ferramenta ou método. Capacitar e dar autonomia aos técnicos e operadores a enxergar e eliminar os problemas foi fundamental para obtenção dos resultados esperados. Portanto, foi essa autonomia que criou uma conexão entre eles, fortalecendo o relacionamento fornecedor-cliente interno entre as áreas, no qual todos acabam sabendo exatamente qual é seu papel no processo de renovação organizacional.
Na quinta etapa, a equipe aplicou as técnicas do controle visual e o do trabalho padronizado, a fim de estabelecer um processo padrão para que os itens melhorados se tornem rapidamente visíveis no local de trabalho permitindo que todos visualizem imediatamente a situação padrão, bem como o reconhecimento da situação não-conforme. O objetivo é que ações sejam tomadas para que se retorne rapidamente à condição normal (padrão).
Também foi nesse momento que os próprios participantes elaboraram os novos procedimentos e rotinas de trabalho, incluindo todas as atividades, melhorias e ideias que eles próprios sugeriram na etapa de kaizen. O objetivo foi disseminar o conhecimento e sistematizar as mudanças por meio da formalização do estado alcançado. Desta forma, transformou-se todo o conhecimento tácito (informal) em conhecimento explícito (formal), pelos quais todos na organização têm acesso. A padronização consolidou as melhorias alcançadas e preparou as pessoas e o ambiente de trabalho para um novo nível de mudança, sem o qual não seria possível garantir a sustentação do nível alcançado.
Vale ressaltar que os padrões e instruções devem ser específicos o suficiente para serem guias úteis, e ainda generalistas o suficiente para permitir a flexibilidade e o fácil entendimento para qualquer pessoa que irá usá-lo. É importante utilizar as ideias dos próprios funcionários para aprimorar as instruções de trabalho, dando a oportunidade para que eles possam contribuir para a melhoria contínua no processo.
Na sexta etapa, as equipes realizaram a confirmação dos resultados obtidos por meio da confrontação das oportunidades de melhorias registradas no diagnóstico do gemba, apresentando os registros do antes e depois (ex: gráfico de inspeção 5s), bem como a melhoria no indicador da Eficiência Global do Equipamento (ex: gráfico do OEE).
Após o fechamento das atividades planejadas e a consolidação dos registros do antes e depois, as equipes prepararam o relatório final para ser apresentado a alta administração, com a apresentação de todas as melhorias alcançadas durante o processo de mudança. Nessa etapa, destacou-se a evolução do estado atual para o estado desejado, demonstrando as atividades realizadas durante o processo de transição, inclusive as padronizações realizadas que garantiram a manutenção do novo estado alcançado.
Na sétima etapa, realizou-se o reconhecimento público dos esforços alcançados pelos participantes, os quais passaram a se tornar uma referência interna para outras áreas que ainda não haviam passado pelo mesmo processo de aprendizado. Os mesmos tiveram a oportunidade de apresentar os resultados obtidos para a alta administração. Desta forma, procurou-se estabelecer uma comunicação mais aberta entre os participantes da equipe e a alta administração.
A satisfação e o reconhecimento pelo desempenho alcançado foram os principais fatores que estimularam os times, pois despertou um sentimento de contentamento pela própria atuação durante o projeto. Também o reconhecimento dos lideres pelo desempenho alcançado proporcionou a felicidade e o bem estar dos colaboradores.
Na ocasião, a alta administração ratificou o total apoio para o projeto, bem como a demonstração de que pretende exercer uma gestão com característica predominantemente participativa e fundamentada em um clima de confiança entre lideres e liderados. A alta administração efetivamente reconheceu os esforços do nível operacional como uma parte relevante do processo de transformação.
O reconhecimento também foi registrado pela entrega do certificado de conclusão do treinamento que foi realizado no estágio de sensibilização, a fim de formalizar o aprendizado individual de todos os colaboradores. Vale lembrar que um reconhecimento adequado motiva os colaboradores para uma participação espontânea em outros projetos de melhorias na organização, bem como a manutenção do nível atual alcançado.
Nesse contexto, é importante ressaltar que uma integração adequada entre as pessoas e a organização, colocando-as lado a lado, pode viabilizar um processo contínuo de desenvolvimento mútuo. Desta forma, as organizações criam condições para aprimorar a capacitação das pessoas, contribuindo diretamente para a sua empregabilidade. As pessoas, por sua vez, ao melhor se qualificar, transferem para a organização o seu aprendizado enriquecendo o patrimônio de conhecimento organizacional e, conseqüentemente, fortalecendo suas vantagens competitivas.
Na oitava etapa, marcamos o fim do primeiro ciclo do modelo de gestão da mudança e aprendizado organizacional. Portanto, abre-se a oportunidade para continuar efetuando novos ciclos (giros) para as mesmas áreas do estudo, assim como também a disseminação para outras áreas da organização. Foi nessa etapa que ocorreu a reunião de fechamento do consultor com a alta administração, pelo qual foram apresentados todas as etapas do desenvolvimento do estudo, resultados alcançados e a sugestão para que o projeto fosse desdobrado para outras pessoas e áreas da empresa.
Contudo, é importante mencionar da necessidade de padronizar as mudanças alcançadas por meio da consolidação do novo nível atingido, após um primeiro giro do ciclo da melhoria. A padronização ocorre pela estabilização e sistematização do processo atual, pelo qual são estabelecidos novos padrões para os produtos e o processos. Somente após a estabilidade é que se pode começar a trabalhar em novos ciclos de mudanças.
Assim como no começo do artigo, volto a mencionar sobre o processo de comunicação, pois é a atividade central do modelo. Vejam que a comunicação foi uma atividade que sempre esteve presente durante os trabalhos. O objetivo foi manter os participantes e a alta administração sempre informados sobre as atividades de cada etapa. A realidade é que o sucesso do estudo sempre esteve diretamente ligado com a qualidade das informações produzidas.
Desta forma, ratifico que esse processo foi e é fundamental para fazer a ligação entre uma fase e outra, proporcionando uma interação efetiva entre pesquisador (consultor), colaboradores e alta administração. Foi a comunicação que manteve a equipe alinhada em relação às atividades a serem realizadas em cada fase do modelo. Foi durante o processo de comunicação que tornamos público as mudanças promovidas nas áreas, dando a oportunidade para que outras áreas também pudessem desenvolver uma percepção positiva em relação à mudança alcançada.
Conclui-se, portanto, que o modelo contribuiu de forma relevante para a gestão eficaz das necessidades de mudanças contínuas e cada vez mais emergentes na organização. No entanto, faz-se necessário que as organizações se tornem aprendizes constantes, capazes de reagir às mudanças, solucionar problemas e aproveitar oportunidades. Ocorre que para promover transformações organizacionais, necessita-se primeiramente de uma mudança na mentalidade das pessoas que formam essa organização (alta administração e colaboradores).
Desta forma, nas organizações de aprendizagem, as pessoas aprimoram continuamente suas capacidades de criar e recriar o estado futuro em ações conjuntas, objetivando a conscientização do trabalho em equipe, através de mudanças e de alterações pessoais para que possam questionar constantemente seus modelos mentais e assim criar ambientes seguros para que outras pessoas possam fazer o mesmo. Portanto, é nesse contexto que o modelo desenvolvido se torna um método inovador e eficaz para transformar as operações em uma vantagem competitiva (A Excelência Operacional).