quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Contexto Empresarial sobre a Gestão da Mudança

Com os vários anos de experiência na gestão industrial, também como professor e consultor, tive a oportunidade de vivenciar na prática inúmeras teorias sobre a Gestão da Mudança. Ocorre que essas enormes dispersões de ideias acabam por confundir as organizações sobre como e quais teorias, combinadas ou não, podem efetivamente proporcionar resultados concretos.
Percebe-se que esse contexto de dúvidas é o mesmo verificado no Brasil e também em outros lugares do mundo, pelo qual pode ser comprovado por meio de pesquisas que registram alguns fatos interessantes. Por exemplo, no Brasil, por meio de pesquisas, o SEBRAE detectou que 72% dos programas de mudança para o ambiente organizacional fracassam.
Também nos EUA, Europa e Austrália, através de pesquisa realizada pela empresa de consultoria chamada BAIN & COMPANY, registra-se que 70% dos programas de mudanças falham. Ainda nessa mesma pesquisa, a empresa relata que metade dos 223 executivos pesquisados afirmaram que não possuem métodos e habilidades suficientes para realizar uma gestão efetiva da mudança.
Há também uma recorrente frustração percebida quando na aplicação da gestão por processos, no qual os resultados podem ser significativamente mais baixos que os efeitos esperados. O fato é que existem muitas literaturas que apresentam a gestão por processos como uma revolução acessível a todas as organizações. Ocorre, no entanto, que as mudanças organizacionais exigem muito esforço, recursos e tempo para que o resultado esperado seja alcançado.
Essa realidade também é confirmada por Thomaz Wood Jr. que em seu livro intitulado ‘Gestão da Mudança’, mostra uma realidade no qual 2/3 dos gerentes consideram insuficientes os resultados obtidos pelos projetos de mudança.
Percebe-se, portanto, que a problemática em gerir mudanças não é apenas uma realidade nacional e sim global. Na realidade, há de fato uma lacuna entre as expectativas geradas e os resultados alcançados. Observa-se também que as maiores dificuldades encontradas na implantação de novas filosofias é a mudança na cultura organizacional em todos os níveis hierárquicos, ponto fundamental para a busca da excelência dos novos processos.
É por isso que a maioria das tentativas de implantar uma nova filosofia de trabalho fracassa nas empresas, pois não adianta somente implementar novas terminologias, ferramentas e princípios. É preciso, sobretudo, incorporar uma nova mentalidade nas pessoas.
É necessário estabelecer uma nova aprendizagem organizacional que depende da absorção de novas técnicas e pressupõe essencialmente a adoção de nova postura por parte das pessoas. Consequentemente, estimulando nas empresas a construção de uma cultura de aprendizagem contínua por meio do ensino teórico e prático das terminologias de paradigma, gestão da mudança, aprendizado organizacional, ferramentas e técnicas gerenciais de liderança e trabalho em equipe.
Essa realidade é que estabelece as normas da competitividade global, pelo qual as empresas são forçadas a desenvolverem ações ofensivas ou defensivas que visam criar uma posição de longo prazo sustentável.
Para exemplificar o texto acima, vamos fazer uma breve análise comparativa entre o passado e o cenário atual que estamos inseridos. É sempre bom recorrer a história, pois dela podemos tirar reflexões sobre os motivos que determinam à sobrevivência ou a “morte” das organizações. Lembre-se da expressão popular que diz: “de olho no futuro, sem esquecer o passado”,
Vejamos o exemplo do caso das montadoras de automóveis dos Estados Unidos. Lembremo-nos do declínio e decadência do maior ícone da supremacia industrial americana no século 20. Na época, o prenúncio da falência de grandes empresas, como o exemplo da General Motors – GM, motivou uma enorme mobilização do governo americano para tentar evitar uma tragédia para a economia americana já estagnada pela crise financeira. Ocorre, no entanto, que a crise americana apenas agravou o que já estava ruim há muito tempo na GM.
O momento histórico também nos proporcionou a oportunidade de análise dos motivos que levaram a montadora do porte da GM ao estado de entropia aguda. A realidade é que a empresa falhou no gerenciamento da renovação organizacional, isto é, a Gestão da Mudança. É por isso que o sucesso de toda organização está em sua capacidade de se adaptar continuamente ao ambiente externo ao longo do tempo.
Desta forma, faz-se necessário que as empresas desenvolvam uma cultura organizacional que age de forma proativa, melhorando seus processos e reduzindo os custos por meio da eliminação daquelas atividades que não agregam valor (os desperdícios). Caso contrário, esperar que as mudanças aconteçam por simples inércia é estabelecer uma rota certa rumo ao fracasso.
No caso da GM, dentre os principais erros praticados, pode-se citar os de gestão da mudança, produtos equivocados em relação às necessidades mercadológicas e, finalmente, uma concorrência inovadora e de baixo custo.
Para esse último, toma-se como referência a montadora japonesa Toyota que desenvolveu uma vantagem competitiva sustentável por meio de seu modelo de gestão de operações enxuto, ágil e adaptável às mudanças contínuas.
É neste contexto que a Toyota se transformou em objeto de vários estudos realizados pelos seus concorrentes, assim como também, por empresas dos mais diferentes ramos de negócios.
Contudo, vale ressaltar que um modelo de sucesso em uma organização não necessariamente dará resultado em outra. Se uma empresa quiser reproduzir, terá que copiar todas as práticas realizadas pelo concorrente, o que é virtualmente impossível.
Muitas são as teorias que indicam como obter vantagem competitiva, contudo, a combinação de alguns aspectos deve ser considerada para o desenvolvimento de uma vantagem competitiva sustentável, são eles: a estratégia proativa, a contínua inovação, os custos baixos e o envolvimento adequado das pessoas.
Esses três últimos atuam como pilares que sustentam a estratégia, portanto, não podem ser tratados isoladamente ou ainda simplesmente focar apenas um em detrimento do outro. A consequência para as empresas que ignoram a combinação simultânea desses aspectos é a entropia organizacional que leva a falência das empresas.
Na realidade, o mais comum nas empresas em relação à estratégia está em adotar uma atitude reativa, pelo qual as organizações agem de forma passiva e subordinada ao ambiente externo. As empresas buscam melhorar seus processos com custos cada vez menores somente após momentos de crises, no qual são forçados pelas exigências mercadológicas ou governamentais que influenciam a competitividade global.
Entretanto, o que se espera é uma atitude proativa dos gestores permitindo uma previsibilidade futura por meio do monitoramento contínuo do ambiente para a identificação de oportunidades e ameaças, a fim de acertar antecipadamente a hora de promover as mudanças necessárias.
Ocorre que, infelizmente, poucos gestores conseguem identificar os problemas e dar atenção a eles antes que se tornem insolúveis. É essa capacidade de discernimento que determina o sucesso ou o fracasso dos profissionais e organizações.
Em situações difíceis, quem analisa antecipadamente o problema e cria as melhores estratégias está sempre um passo à frente da concorrência. Em último caso, o que se espera é descobrir que está doente, qual é a doença e agir para curá-la a tempo. Caso contrário, depois de morto, resta-nos checar qual foi a razão do falecimento.
Não é possível deixar para tomar as ações necessárias somente quando a crise já se instalou. É preciso estar previamente preparado para ela. A realidade é que a maioria das organizações raramente enxerga o que é realmente importante em meio à enxurrada de assuntos que aparecem a todo instante, deixando de valorizar o processo decisório como deveria.
As consequências são decisões equivocadas em seu conteúdo e tempo de aplicação. Portanto, decisões acertadas não são súbitos momentos de inspiração, elas resultam de processos estruturados requerendo dos gestores investimento de tempo, energia e conhecimento. Lembrando também que para decidir é preciso ter experiência e competência, sobretudo, aprender com cada episódio vivenciado.
Vale lembrar que as organizações estão inseridas em um mundo de crescentes mudanças e transformações, repleto de contingências, coações, ameaças e oportunidades, em que a mudança contínua é a mola mestra dos negócios. Entretanto, obter vantagem competitiva requer empresas ágeis e enxutas, capazes de se adequar aos cenários em constante mutação, além de aprender continuamente novos métodos e caminhos para o alcance dos resultados almejados.
Na realidade, o que se revela é a dificuldade de êxito nesse processo de gestão tendo como consequência grande perda para a saúde do negócio e até mesmo situações financeiras insustentáveis. Portanto, a palavra ‘mudança’ já se tornou regra e não é mais uma exceção ou apenas uma “moda” de alguns. Trata-se de um tema com relevância global e determinante entre crescer de forma sustentável ou morrer.