
Em 1 Samuel 16:7 o Senhor
alerta Samuel a não se deixar enganar pela aparência ou pela estatura do
açoitador: Deus rejeitou Eliabe porque não julga como o homem julga, pois
enquanto a avaliação humana se fixa no visível, a divina alcança o âmago do
coração. No contexto de um ambiente de engenharia pautado por indicadores de
desempenho, prazos e entregas, essa passagem nos convida a resgatar o valor das
virtudes que não aparecem em relatórios, mas se refletem na solidez das
soluções e na confiança mútua entre equipes.
Em projetos complexos, é comum
atribuir protagonismo apenas aos resultados numéricos: produtividade, taxa de
rejeição ou cumprimento de cronogramas. No entanto, quando líderes e
colaboradores priorizam a ética no desenvolvimento de um produto, o esforço silencioso
em refinar processos e a empatia ao conduzir colegas em dificuldades, as bases
para uma inovação sustentável se fortalecem. Uma peça bem projetada ou uma
linha de montagem eficiente não nascem somente de cálculos precisos, mas do
respeito aos compromissos internos e do zelo pelo trabalho bem-feito.
A integridade técnica se
manifesta na responsabilidade de validar cada hipótese, de compartilhar
imparcialmente dados de testes e de admitir falhas antes que se tornem
retrabalho. A justiça materializa-se na distribuição equitativa de tarefas e no
reconhecimento de quem contribui para a solução, mesmo que em etapas pouco
visíveis. Já o fair play ganha expressão na transparência das decisões e no
estímulo à competição saudável, em que a equipe vence ou aprende unida.
Um gestor que valoriza o
caráter sabe que resultados isolados podem mascarar vícios de processo ou
desconexões culturais. Projetos entregues no prazo, mas baseados em atalhos
técnicos ou equipes exaustas, acabam gerando custos ocultos com retrabalho, falhas
de campo e desgaste de profissionais. Por outro lado, times que experimentam
confiança, apoio e clareza de propósito desenvolvem resiliência para enfrentar
imprevistos, colaboram de forma genuína e criam soluções com qualidade
superior.
Reconhecer o coração de cada
engenheiro é, portanto, tão fundamental quanto aferir métricas de desempenho.
Quando estimulamos comportamentos guiados por coragem intelectual, curiosidade
sincera e compromisso coletivo, mantemos viva a chama da criatividade e
garantimos que cada linha de código, cada desenho e cada peça reflitam não apenas a competência técnica, mas também os valores que sustentam
uma engenharia que transforma e perdura.