terça-feira, 8 de julho de 2025

O Perigo das "Armadilhas Digitais 4.0"


A corrida para adotar práticas da Indústria 4.0 pode levar gestores a confiar excessivamente em indicadores e painéis de controle, sem perceber que dados remotos nem sempre espelham com fidelidade a realidade operacional. Em um centro de atendimento de telefonia móvel, vivenciei esse desequilíbrio entre o virtual e o concreto ao aguardar por mais de uma hora na fila, enquanto apenas um entre sete guichês chamava senhas. A concentração de operadores em frente aos computadores criava a falsa impressão de pleno atendimento, quando na prática cinco postos permaneciam vazios.

Ao relatar o problema ao gerente, ele se baseou exclusivamente no status de “log on” registrado em seu sistema, acreditando que todos os atendentes estavam efetivamente em serviço. Somente quando o conduzi até o local de atendimento ele constatou que aquela plataforma digital não capturava ausências, pausas indevidas ou a falta de preparo para iniciar o próximo cliente. A surpresa mostrou a fragilidade de decisões tomadas apenas a partir de métricas desconectadas do ambiente de trabalho.

Em poucos minutos, a presença do gerente no genba estimulou a mobilização imediata da equipe. Novas atendentes ocuparam os guichês vagos, enquanto outras começaram a filtrar em antecipação as solicitações dos clientes, acelerando o fluxo de atendimento. Essa simples mudança de postura, de acompanhar o processo em tempo real em vez de observar gráficos, restaurou a eficiência e demonstrou como pequenas ações no chão de fábrica impactam diretamente os resultados.

O princípio de genchi genbutsu, nascido no Sistema Toyota de Produção, reforça que “ir e ver” é essencial para compreender problemas e validar soluções. Na era digital, as ferramentas de monitoramento são indispensáveis, mas não substituem a observação direta das operações. O gestor que combina análises automatizadas com visitas regulares ao genba acessa a visão completa do processo, identifica desperdícios invisíveis aos relatórios e engaja a equipe na busca por melhorias.

Adotar a Indústria 4.0 não significa apenas implementar sensores, sistemas de automação e algoritmos avançados, mas também manter vivo o olhar atento ao ambiente real de trabalho. A integração entre dados e observação empírica garante que as soluções tecnológicas sejam calibradas conforme a dinâmica humana e produtiva da empresa. Desse modo, evitam-se armadilhas da “aparência digital” e constrói-se uma cultura de melhoria contínua ancorada no conhecimento profundo do processo.