Já faz algum tempo que estudo sobre o Sistema Toyota de Produção, também
chamado de Manufatura Enxuta ou Lean Manufacturing. A minha
dissertação de mestrado em Engenharia de Produção teve como base o Lean Manufacturing.
Também escrevo e publico vários artigos sobre o tema. Realizo palestras, treinamentos
e consultorias sobre os conceitos, ferramentas e os métodos para implementar
com sucesso a filosofia Lean. Na universidade (graduação e
pós-graduação), repasso meus conhecimentos e experiências para meus alunos.
No entanto, o mais importante nessa jornada é experiência que vivo dia-a-dia dentro de grandes empresas. Durante toda a minha vida profissional, tenho aplicado na prática todas as teorias que estudei. Portanto, experimento dentro das empresas tudo o que de fato é real ou não nas teorias sobre o Lean Manufacturing.
Nesse contexto, como forma de continuar contribuindo com aqueles que ainda estão nessa
jornada ou outros que se já se frustraram, escrevo abaixo algumas orientações e
dicas, a fim de simplificar o entendimento do real sentido de ser uma empresa Lean. As
orientações e dicas são as seguintes:
A implementação do Lean se baseia em algumas regras, dentre elas estão:
todo o trabalho deve ser altamente especificado em relação ao conteúdo,
sequência, tempo e resultado desejado. O principal é que qualquer melhoria deve
ser realizada pelos envolvidos na atividade que está sendo melhorada.
Mais que tecnologia, o Lean valoriza as pessoas, destacando a tomada de
decisões conjuntas, centrada na localização das perdas.
A simples aplicação de técnicas e ferramentas relacionadas ao Lean não é
suficiente para tornar uma empresa enxuta. Para se atingir esse nível, é
fundamental que todos que compõem o sistema compreendam a filosofia de
eliminação dos desperdícios e estejam comprometidos com a satisfação plena dos
clientes.
Atualmente, apesar da grande influência do Lean, muitas empresas apenas
implementaram superficialmente a filosofia. A maioria das empresas focou apenas
em ferramentas como, por exemplo, os 5s (sensos de utilização, organização,
limpeza, padronização e autodisciplina), just-in-time e kanbam. Contudo, não se
preocuparam em entender por completo o Lean que deve estar inserido na cultura organizacional.
O Lean está baseado nos chamados 4Ps: Philosophy - filosofia, Process -
processo, People and Partness - pessoas e parceiros e Problems Solve – solução de
problemas. O problema é que grande parte das empresas pensam que estão
trabalhando totalmente de acordo com o modelo Lean, contudo, constata-se que
elas apenas estão focando o “P” do processo e esquecendo de desenvolver os
outros Ps.
Outra falha que ocorre na maioria das empresas é o não envolvimento da
alta administração nas operações do dia-a-dia e na melhoria continua que é
fundamental para o sucesso da filosofia. Vale ressaltar que a aplicação dos
princípios e técnicas do Lean está principalmente relacionada à mudança de
paradigma.
Grande parte das empresas não está disposta a fazer os investimentos
necessários em capacitação de funcionários e aguardar o tempo para que os
resultados apareçam. Portanto, acabam descontinuando ou deixando de implementar
componentes essenciais alegando resultados insuficientes.
Grande parte das dificuldades para implementar as técnicas e ferramentas
do Lean, está ligada as dificuldades de compreensão do significado da
filosofia. A falta de uma compreensão básica dos novos procedimentos Lean causa
grande resistência dos funcionários que não querem sair da zona de conforto.
O sucesso do Lean não está apenas no conhecimento ou aplicação das ferramentas,
mas também na perfeita imersão dos conceitos e na forma como esses estão
alinhados com as metas estratégicas da organização.
Ter uma produção enxuta requer uma forma de pensar diferente com o foco
em fazer o produto fluir por um processo contínuo que agrega valor ao cliente
interno e externo e sem interrupções. Um sistema “puxado” que retorna em
cascada da demanda do cliente, que por sua vez, puxa somente o que necessita e
quando precisa. Uma cultura em que todas as pessoas, em todos os níveis, estão
comprometidas com a melhoria continua.
A chave para a operação é a flexibilidade, isto é, quando você trabalha
com lead-times menores e com linhas de produção flexíveis, pode-se obter maior
qualidade, maior resposta do cliente, maior produtividade e melhor utilização
dos equipamentos e espaço.
Um processo adequado irá produzir o correto resultado. Um bom começo
para uma empresa eliminar desperdícios é criar fluxo contínuo nos processos de manufatura.
O fluxo contínuo tende a forçar a implementação de várias outras ferramentas do
Lean, isto é, baixando o nível de estoque iremos tornar visíveis os problemas,
portanto, dispara-se uma ação para resolvê-los e não somente escondê-los.
Vale ressaltar que criar um fluxo contínuo significa juntar operações
que antes eram separadas, portanto, quando operações são juntas há mais
trabalho em equipe, o feedback é mais rápido para os problemas de qualidade, o
processo é melhor controlado e as pessoas responsáveis pela solução dos
problemas são acionadas imediatamente.
O uso dos indicadores de desempenho é um fator chave na implementação do
Lean. Nesse contexto, a participação dos níveis operacionais é um dos fatores
mais fortes para o sucesso do Lean.
O motivo do insucesso em replicar o Lean está na tentativa das empresas
em criar seus próprios sistemas de produção apenas com o foco em algumas
ferramentas sem antes entender claramente os princípios do sistema e a
filosofia. Nem sempre uma ferramenta utilizada em uma empresa fará com que se
obtenham as mesmas melhorias em outra do mesmo porte e mesmo ramo de atuação,
já que estas têm suas peculiaridades e métodos de gestão.
No Lean, há os princípios que definem as ideias que norteiam uma ação ou
decisão, isto é, os princípios representam o “o quê” deve ser atingido ou
buscado. Já as ferramentas, são definidas como capacitadores, isto é, eles
representam o “como” atingir um princípio.
Há uma estreita relação entre os princípios e os capacitadores, tornando
imprudente separá-los, pois, para que os princípios sejam alcançados, é
necessário concretizar os capacitadores. Desta forma, dar foco apenas na introdução
de algumas ferramentas significará insucesso em replicar o Lean.
A simples combinação dos princípios e os capacitadores podem ser receita
de êxito na aplicação da grande variedade de situações e empresas. Entretanto,
a realidade das empresas demonstra que também é necessário desenvolver a
mentalidade, os valores e a disciplina, o que requer total envolvimento e
entendimento por parte das pessoas em relação às essas ferramentas e
princípios.
O sucesso e a sustentabilidade do Lean vão muito além da disciplina em
aplicar as ferramentas e técnicas, mas principalmente capacitação adequada das
pessoas. Nesse ponto, destaco a importância do Líder Lean. O verdadeiro líder
motiva e desenvolve seus funcionários capacitando-os para agir por conta própria,
atribuindo-lhes tarefas críticas para o sucesso da empresa, permitindo-lhes exercer
com liberdade e autonomia sem temer a competição interna. O verdadeiro líder
entende que o sucesso de si próprio depende do sucesso de seus colaboradores. O
verdadeiro líder exerce a liderança pelo exemplo. Não existe um único estilo ou
característica de liderança valida para toda e qualquer situação. Cada tipo de
situação requer um tipo de liderança diferente para se alcançar a eficácia dos
colaboradores.
A Toyota levou mais de 20 anos para aprimorar o que hoje chamamos de
Sistema Toyota de Produção. A boa notícia é que as outras empresas não precisam
dos mesmos 20 anos para implementar o Lean. Contudo, faz-se necessário que o
Lean tenha tempo para adquirir consistência. A implantação da maioria das
técnicas do Lean requer um tempo de maturação.
O Lean necessita de um claro entendimento e empenho da alta gerência
para promover as reformas necessárias. A importância da compreensão e o
consentimento de todos são essenciais, especialmente as pessoas do chão de
fábrica. Em muitos casos, esse é o elemento chave que determinará o sucesso ou
o fracasso para implementar o Lean.
Há alguns fatores básicos para a construção do Lean. Os Sistemas
Produtivos devem ser projetados a partir das necessidades básicas de ser Lean.
Após estabelecido a operação, faz-se necessário estabelecer uma guerra
sistemática as perdas, visando à redução dos custos, redução dos prazos de
entrega, entrega assegurada, entrega dentro do prazo e qualidade assegurada dos
produtos. Dentre as técnicas fundamentais que viabilizam o sucesso do Lean,
destaca-se a Troca Rápida de Ferramentas, a inspeção na fonte, a análise e
engenharia de valor, o JIT e o Kanban. é preciso. É preciso criatividade diante
da necessidade.
O sucesso de replicar o Lean não é copiar simplesmente aquilo que deu
certo em outros lugares, mas sim entender o porquê deu certo, quais os
princípios e técnicas pertinentes e como pode servir para a atual situação.
O objetivo mais importante do Lean é aumentar a eficiência dos sistemas
produtivos pela eliminação consistente e completa dos desperdícios (perdas).
Nesse contexto, o sucesso do Lean está em investir tempo no Gemba (termo
japonês para o local de trabalho) e aprender a mapear as atividades que agregam
valor, e as que não agregam valor, a fim de melhorar a qualidade dos processos
e produtos, com custos mais baixos.
O chão de fábrica (gemba) é a principal fonte de informação do Lean. Um
exemplo clássico são os procedimentos e instruções de trabalho que não podem
ser escritos em uma escrivaninha. Há a necessidade de revisão e teste para que
qualquer pessoa possa compreender de imediato.
É relevante a necessidade do envolvimento de todas as pessoas, do
gerente ao colaborador do chão de fábrica. Deve-se dar especial atenção ao
aperfeiçoamento de processos e orientações para melhorias contínuas que
demandam menor investimento e tempo de implantação, além da motivação,
comunicação, treinamento, trabalho em equipe, envolvimento e autodisciplina. Os
colaboradores reagem apenas quando existe senso de compromisso mútuo.
Alguns princípios são relevantes para sustentar o Lean, são eles: basear
as decisões estratégicas em uma filosofia de longo prazo; criar um fluxo de
processo contínuo para trazer os problemas à tona; usar sistemas puxados para
minimizar estoques; nivelar carga de trabalho; construir uma cultura de parar e
resolver problemas; padronizar as tarefas e capacitar os colaboradores; usar
controle visual para que nenhum problema fique oculto; usar tecnologia
confiável e que atenda os colaboradores e processos; desenvolver líderes que
compreendam o trabalho, que vivam a filosofia e ensinem outros; desenvolver
pessoas e equipes; desafiar fornecedores e parceiros a melhorar; ver por si
mesmo para compreender a situação; tomar decisões por consenso e tornar-se uma
organização de aprendizagem através da melhoria contínua.
A valorização da organização por meio do desenvolvimento de seus
funcionários é um dos principais princípios necessários para o êxito do Lean.
Um dos maiores desperdícios é não utilizar a criatividade das pessoas que
trabalham na organização.
É possível utilizar uma variedade de ferramentas do Lean e ainda assim
estar seguindo apenas alguns princípios do Lean, tendo como resultado “saltos”
de curto prazo nas medidas de desempenho e que não serão sustentáveis em longo
prazo. Por outro lado, uma organização que pratica com excelência todos os
princípios do Lean estará a caminho de uma vantagem competitiva sustentável.
É preciso equipar os operários com “óculos de muda” (muda significa
qualquer atividade que consome recursos sem agregar valor aos clientes),
tornando-os aptos a enxergar as perdas. A ideia, em seguida, é criar uma
cultura que os encoraje a eliminar as perdas, uma vez identificadas.
Para implantar o Lean é necessário o envolvimento total das pessoas, uma
vez que os colaboradores são treinados e motivados para assumir total
responsabilidade pelo trabalho que realizam. A maioria das tentativas de
implantar o Lean fracassa nas empresas porque não adianta somente adquirir o
vocabulário, as ferramentas, princípios ou especialistas. É preciso, sobretudo,
incorporar uma atitude Gemba para o sistema enxuto prosperar.
A implantação do sistema Lean requer uma abordagem sistêmica na qual,
uma série de aspectos da empresa deve ser modificada. São necessários alguns
pré-requisitos para implantar o Lean, dentre eles: a mudança para a mentalidade
enxuta, capacitação de operadores, ambiente de trabalho que favoreça a
flexibilidade, comunicação, trabalho em equipe e conhecimento de processos e
fluxos.
O processo de implementação Lean necessita de um gerenciamento Lean. Em
um sistema enxuto os resultados certamente importam, mas a abordagem para
alcançá-los difere muito dos métodos convencionais de gestão. A diferença no
sistema de gestão Lean é o foco no processo, bem como o foco em resultados. A
premissa é a seguinte: deve-se começar a desenvolver um processo Lean que possa
produzir resultados Lean. Se o processo tiver sido bem projetado e mantido, os
resultados aparecerem.
O sistema de gestão Lean é um elemento integrante do processo Lean. Se o
processo fosse um sistema perfeito, seria sempre executado como foi projetado e
sempre irá entregar resultados consistentes. Entretanto, um sistema no mundo
real exige manutenção periódica para continuar a produzir resultados.
A complexidade aumenta quando as pessoas são inseridas no processo Lean,
pois as pessoas também necessitam de todo tipo de "manutenção" e
atenção. Deixado o processo Lean à própria sorte, as pessoas podem modificar o
processo de tal forma a ficar muito longe do projeto original. Dessa forma, a
disciplina é o outro fator relevante no processo Lean. Sem um alto grau de
disciplina, a desordem se instala em curto espaço de tempo. Portanto, sem um
sistema de gestão Lean adequado e disciplinado, a implementação do Lean não
prosperará.
As pessoas devem aprendem a buscar as causas, ao invés dos
"culpados", conseguindo-se com isso soluções efetivas e, de quebra,
um ambiente de maior entendimento e melhores relacionamentos entre a equipe.
Com o Lean, abate-se a cultura de "varrer a sujeira para debaixo do
tapete", a cultura da tolerância com as falhas e perdas de todo tipo.
Ocorre também uma mobilização em toda a equipe para o combate aos erros e aos
desperdícios, em todos os aspectos e por toda a organização.
Ao pensar sobre a eliminação total do desperdício, tenha em mente que o
aumento da eficiência só faz sentido quando está associado á redução de custos.
Para obter isso é necessário começar a produzir apenas aquilo que se necessita
usando um mínimo de mão-de-obra. Observe a eficiência de cada operador e de
cada linha. Observe então os operadores como um grupo, e depois a eficiência em
todas as linhas. A eficiência deve ser melhorada em cada estágio e, ao mesmo tempo,
para a fábrica como um todo. A verdadeira melhoria na eficiência surge quando
se produz “zero desperdício” e se eleva a porcentagem de trabalho para o máximo.
Os desperdícios são os males que mais prejudicam a sobrevivência das
empresas frente à competitividade, seja na indústria, na de construção civil,
na agricultura e também no governo. O desperdício é tudo aquilo que consome
algum tipo de recurso, porém não agrega qualquer valor ao processo, portanto,
para se obter lucro, continuar sobrevivendo e empregando, a inexistência de
desperdícios nas empresas é a meta a ser atingida a todo custo.
O Lean tem papel fundamental no sucesso competitivo das organizações.
Significa pequenas mudanças realizadas no status quo, como resultado dos
esforços contínuos. O Lean também contribui para a construção do aprendizado
por meio do envolvimento direto dos colaboradores das áreas estudadas no gemba
(local de trabalho).
É claro que as dicas acima
citadas não esgota todo o assunto. Contudo, com certeza irá despertar alguma
situação que em uma autoanálise sinalizou a necessidade de alguma mudança
organizacional. Se isso acontecer na sua empresa, o propósito desse artigo já
estará satisfeito. Lembre-se: "Nós somos aquilo que fazemos repetidamente.
Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito" Aristóteles. Bom
trabalho!!!