Com os vários anos de experiência na
gestão industrial, também como professor e consultor, tive a oportunidade de
vivenciar na prática inúmeras teorias sobre a Gestão da Mudança. Ocorre que
essas enormes dispersões de ideias acabam por confundir as organizações sobre
como e quais teorias, combinadas ou não, podem efetivamente proporcionar
resultados concretos.
Percebe-se que esse contexto de
dúvidas é o mesmo verificado no Brasil e também em outros lugares do mundo,
pelo qual pode ser comprovado por meio de pesquisas que registram alguns fatos
interessantes. Por exemplo, no Brasil, por meio de pesquisas, o SEBRAE detectou
que 72% dos programas de mudança para o ambiente organizacional fracassam.
Também nos EUA, Europa e Austrália, através
de pesquisa realizada pela empresa de consultoria chamada BAIN & COMPANY,
registra-se que 70% dos programas de mudanças falham. Ainda nessa mesma
pesquisa, a empresa relata que metade dos 223 executivos pesquisados afirmaram
que não possuem métodos e habilidades suficientes para realizar uma gestão
efetiva da mudança.
Há também uma recorrente frustração
percebida quando na aplicação da gestão por processos, no qual os resultados
podem ser significativamente mais baixos que os efeitos esperados. O fato é que
existem muitas literaturas que apresentam a gestão por processos como uma
revolução acessível a todas as organizações. Ocorre, no entanto, que as
mudanças organizacionais exigem muito esforço, recursos e tempo para que o
resultado esperado seja alcançado.
Essa realidade também é confirmada por
Thomaz Wood Jr. que em seu livro intitulado ‘Gestão da Mudança’, mostra uma
realidade no qual 2/3 dos gerentes consideram insuficientes os resultados
obtidos pelos projetos de mudança.
Percebe-se, portanto, que a
problemática em gerir mudanças não é apenas uma realidade nacional e sim
global. Na realidade, há de fato uma lacuna entre as expectativas geradas e os
resultados alcançados. Observa-se também que as maiores dificuldades
encontradas na implantação de novas filosofias é a mudança na cultura organizacional
em todos os níveis hierárquicos, ponto fundamental para a busca da excelência
dos novos processos.
É por isso que a maioria das
tentativas de implantar uma nova filosofia de trabalho fracassa nas empresas,
pois não adianta somente implementar novas terminologias, ferramentas e
princípios. É preciso, sobretudo, incorporar uma nova mentalidade nas pessoas.
É necessário estabelecer uma nova aprendizagem
organizacional que depende da absorção de novas técnicas e pressupõe
essencialmente a adoção de nova postura por parte das pessoas. Consequentemente,
estimulando nas empresas a construção de uma cultura de aprendizagem contínua
por meio do ensino teórico e prático das terminologias de paradigma, gestão da
mudança, aprendizado organizacional, ferramentas e técnicas gerenciais de
liderança e trabalho em equipe.
Essa realidade é que estabelece as
normas da competitividade global, pelo qual as empresas são forçadas a
desenvolverem ações ofensivas ou defensivas que visam criar uma posição de
longo prazo sustentável.
Para exemplificar o texto acima, vamos
fazer uma breve análise comparativa entre o passado e o cenário atual que
estamos inseridos. É sempre bom recorrer a história, pois dela podemos tirar reflexões
sobre os motivos que determinam à sobrevivência ou a “morte” das organizações. Lembre-se
da expressão popular que diz: “de olho no futuro, sem esquecer o passado”,
Vejamos o exemplo do caso das
montadoras de automóveis dos Estados Unidos. Lembremo-nos do declínio e
decadência do maior ícone da supremacia industrial americana no século 20. Na
época, o prenúncio da falência de grandes empresas, como o exemplo da General
Motors – GM, motivou uma enorme mobilização do governo americano para tentar
evitar uma tragédia para a economia americana já estagnada pela crise
financeira. Ocorre, no entanto, que a crise americana apenas agravou o que já
estava ruim há muito tempo na GM.
O momento histórico também nos
proporcionou a oportunidade de análise dos motivos que levaram a montadora do
porte da GM ao estado de entropia aguda. A realidade é que a empresa falhou no
gerenciamento da renovação organizacional, isto é, a Gestão da Mudança. É por
isso que o sucesso de toda organização está em sua capacidade de se adaptar
continuamente ao ambiente externo ao longo do tempo.
Desta forma, faz-se necessário que as
empresas desenvolvam uma cultura organizacional que age de forma proativa,
melhorando seus processos e reduzindo os custos por meio da eliminação daquelas
atividades que não agregam valor (os desperdícios). Caso contrário, esperar que
as mudanças aconteçam por simples inércia é estabelecer uma rota certa rumo ao
fracasso.
No caso da GM, dentre os principais
erros praticados, pode-se citar os de gestão da mudança, produtos equivocados
em relação às necessidades mercadológicas e, finalmente, uma concorrência
inovadora e de baixo custo.
Para esse último, toma-se como
referência a montadora japonesa Toyota que desenvolveu uma vantagem competitiva
sustentável por meio de seu modelo de gestão de operações enxuto, ágil e
adaptável às mudanças contínuas.
É neste contexto que a Toyota se
transformou em objeto de vários estudos realizados pelos seus concorrentes,
assim como também, por empresas dos mais diferentes ramos de negócios.
Contudo, vale ressaltar que um modelo de
sucesso em uma organização não necessariamente dará resultado em outra. Se uma
empresa quiser reproduzir, terá que copiar todas as práticas realizadas pelo
concorrente, o que é virtualmente impossível.
Muitas são as teorias que indicam como
obter vantagem competitiva, contudo, a combinação de alguns aspectos deve ser
considerada para o desenvolvimento de uma vantagem competitiva sustentável, são
eles: a estratégia proativa, a contínua inovação, os custos baixos e o
envolvimento adequado das pessoas.
Esses três últimos atuam como pilares
que sustentam a estratégia, portanto, não podem ser tratados isoladamente ou
ainda simplesmente focar apenas um em detrimento do outro. A consequência para
as empresas que ignoram a combinação simultânea desses aspectos é a entropia
organizacional que leva a falência das empresas.
Na realidade, o mais comum nas
empresas em relação à estratégia está em adotar uma atitude reativa, pelo qual
as organizações agem de forma passiva e subordinada ao ambiente externo. As
empresas buscam melhorar seus processos com custos cada vez menores somente
após momentos de crises, no qual são forçados pelas exigências mercadológicas
ou governamentais que influenciam a competitividade global.
Entretanto, o que se espera é uma
atitude proativa dos gestores permitindo uma previsibilidade futura por meio do
monitoramento contínuo do ambiente para a identificação de oportunidades e
ameaças, a fim de acertar antecipadamente a hora de promover as mudanças
necessárias.
Ocorre que, infelizmente, poucos
gestores conseguem identificar os problemas e dar atenção a eles antes que se
tornem insolúveis. É essa capacidade de discernimento que determina o sucesso
ou o fracasso dos profissionais e organizações.
Em situações difíceis, quem analisa
antecipadamente o problema e cria as melhores estratégias está sempre um passo
à frente da concorrência. Em último caso, o que se espera é descobrir que está
doente, qual é a doença e agir para curá-la a tempo. Caso contrário, depois de
morto, resta-nos checar qual foi a razão do falecimento.
Não é possível deixar para tomar as
ações necessárias somente quando a crise já se instalou. É preciso estar
previamente preparado para ela. A realidade é que a maioria das organizações
raramente enxerga o que é realmente importante em meio à enxurrada de assuntos
que aparecem a todo instante, deixando de valorizar o processo decisório como
deveria.
As consequências são decisões
equivocadas em seu conteúdo e tempo de aplicação. Portanto, decisões acertadas
não são súbitos momentos de inspiração, elas resultam de processos estruturados
requerendo dos gestores investimento de tempo, energia e conhecimento.
Lembrando também que para decidir é preciso ter experiência e competência,
sobretudo, aprender com cada episódio vivenciado.
Vale lembrar que as organizações estão
inseridas em um mundo de crescentes mudanças e transformações, repleto de
contingências, coações, ameaças e oportunidades, em que a mudança contínua é a
mola mestra dos negócios. Entretanto, obter vantagem competitiva requer
empresas ágeis e enxutas, capazes de se adequar aos cenários em constante
mutação, além de aprender continuamente novos métodos e caminhos para o alcance
dos resultados almejados.
Na realidade, o que se revela é a
dificuldade de êxito nesse processo de gestão tendo como consequência grande
perda para a saúde do negócio e até mesmo situações financeiras insustentáveis.
Portanto, a palavra ‘mudança’ já se tornou regra e não é mais uma exceção ou
apenas uma “moda” de alguns. Trata-se de um tema com relevância global e
determinante entre crescer de forma sustentável ou morrer.